Agenda, artigo do padre Charles Borg

Liberta a verdade! Nada edifica melhor que a verdade. E nada é mais devastador que a mentira. Integra o código ético do jornalismo o compromisso com a verdade. Responsável jornalista se define pelo rigoroso comprometimento com a verdade dos fatos. Respeitosos acadêmicos alertam quanto ao grave desserviço prestado ao jornalismo – e consequentemente, à verdade dos fatos – quando o profissional baseia suas informações em conversas, sem dar-se ao trabalho de checar in loco a autenticidade das notícias. Integra o jargão jornalístico que o verdadeiro profissional é aquele que gasta a sola do sapato. Não lhe agradam informações “em off”. Ao contrário, tem a coragem de abandonar o conforto da sala climatizada e sair a procura da verdade dos fatos. Correto jornalismo é feito a partir de apuração cuidadosa, imunizada contra hipóteses e achismos. O jornalista bom é aquele que busca com paixão a verdade, domando os próprios interesses e educando as próprias referências. Tanto o leitor como o ouvinte querem fatos, não narrativas; querem isenta apuração, não sensacionalismo. Cabe ao profissional reportar objetivamente, oferecendo ao consumidor amplas condições para que ele mesmo forme seu juízo.
Falando recentemente a jornalistas credenciados junto ao Vaticano, o Papa Francisco, num discurso lido, destacou a vocação do jornalista e o salutar serviço prestado pelos profissionais à sociedade. Foi a primeira vez que um Papa encontrou-se formalmente com os profissionais de imprensa, incluindo repórteres, editores, fotógrafos, cinegrafistas, enfim, profissionais diversos que militam na mídia e que tem como trabalho principal cobrir eventos relacionados com a missão pastoral do Papa e divulgar notícias que envolvem a vida da Igreja. Em uma parte do discurso, o papa Francisco fez referência àquelas notícias desagradáveis que reportam condutas impróprias praticadas por gente de Igreja, como os casos de abusos sexuais, de intrigas de bastidores e de escândalos financeiros. O papa agradeceu a prudência demonstrada pelos jornalistas em evitar sensacionalismos ao reportar tais escândalos, ao mesmo tempo em que insistiu sobre a necessidade de divulgar fatos e não apenas suspeitas ou conversas. A sociedade tem direito à informações corretas, fatos apurados e não fofocas. Consumidores sérios repudiam sensacionalismos movidos à preconceitos ou impulsionados por versões flagrantemente tendenciosas.
Emerge o nervo sensível da profissão jornalística, o empenho com a verdade objetiva, mesmo quando esta transparência aparentemente manche a imagem de figuras ilustres, inclusive agentes eclesiásticos. Empenhar-se em buscar e divulgar a verdade dos fatos representa, na realidade, um gesto de caridade tanto para com o suposto infrator, dando-lhe condições reais de defender-se, como também para as possíveis vítimas, dando lhes reais condições de proteção e justiça. Representa igual responsabilidade com o destinatário da informação que, normalmente paga para receber confiáveis informações. Invadir a privacidade alheia tanto pode configurar nefasto crime como representar um dever ético para com a sociedade. Salta espontânea a moral imperativa a regular a conduta do jornalista, revestir-se de serenidade, equilíbrio e prudência para buscar, checar e divulgar a veracidade dos acontecimentos, oferecendo ao consumidor amplas condições de formar opinião e emitir juízo.
Mostrar a verdade excelsa virtude é. Imperativa, em especial no atual contexto de fatos maldosamente manipulados e de declarações levianamente descontextualizadas. Sublime proposta pauta a agenda do jornalista vocacionado: inegociável compromisso com a divulgação da informação isenta, apurada, objetiva, propositiva.

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