Incerto é o futuro! Sucessivas pesquisas realizadas pelo Instituto Locomotiva – reportadas em entrevista de leitura obrigatória no jornal Estado de S. Paulo, Direto da Fonte, 14.9.2020 – oferecem precioso diagnóstico da realidade brasileira neste contexto de pandemia. O diretor do Instituto, Renato Meirelles, destaca, preliminarmente, o ingente trabalho empregado na análise e tabulação das respostas, uma vez que se presume que nem sempre as pessoas externam opiniões sinceras em pesquisas.
As pessoas mentem, afirma o profissional. Cabe ao Instituto, por intermédio de variadas abordagens, chegar o mais próximo possível à realidade. Exercício interessante é confrontar as verdades que emergem desses levantamentos com as experiências pessoais vividas em ambientes de família, de igreja, de sociedade. Este confronto funciona como filtro para que se forme confiável retrato da realidade e, simultaneamente, conjecturar a direção para onde a sociedade caminha.
Ficou claro, nos meses críticos de contágio, o viés solidário da alma humana, em especial entre os mais pobres. Cidadãos, associações e empresas, se mobilizaram em iniciativas humanitárias e trabalhos voluntários variados, amparando e socorrendo os mais vulneráveis ameaçados pela pandemia. O contágio não respeita categorias sociais, nem gêneros, nem idades. No entanto, a classe mais pobre ficou especialmente vulnerável em função das infames desigualdades sociais e, no caso local, das absurdas condições de saneamento básico. O vírus se dissemina com bem mais desenvoltura em espaços reduzidos onde várias pessoas são obrigadas a conviver.
Mesmo nesses precários ambientes, os gestos de solidariedade se multiplicaram – se um vizinho tem comida, ninguém passa fome – foi uma resposta frequentemente ouvida. Em contraste, a pesquisa descobriu que um terço das classes A e B – as mais abastadas – se inscreveu e recebeu o auxílio emergencial oferecido pelo governo. Enquanto milhões de necessitados se afligiam, tentando preencher minuciosos formulários, sem, inclusive, acesso à internet, famílias economicamente mais estáveis se gabavam da sua ganância desfaçada. Contrasta a sensibilidade dos pobres com o caradura oportunismo de alguns espertalhões.
De acordo com os dados revelados pelas pesquisas, a mobilização solidária evitou que o país entrasse em colapso, situação mais que propícia para convulsões sociais. Emerge retrato e desenha-se rumo: a solidariedade, genuína e generosa, garante o necessário equilíbrio social. A cínica ganância acirra justificadas revoltas. Urge implementar a socialização das oportunidades e serviços, vacinando, todavia, os mais humildes contra os perversos vírus do egocentrismo e da desfaçatez, tão evidentes entre os mais estudados e prósperos. Imperioso resgatar valores morais e reintroduzir padrões éticos!
Confirmam as pesquisas a relevância das redes sociais. O exigente e duro distanciamento físico ficou suavizado pelas imensas facilidades proporcionadas por essas plataformas. Empregos foram preservados, parentes se mantiveram conectados, consolo religioso permaneceu acessível, atividades lúdicas e escolares incentivadas. A tecnologia incorporou-se ao cotidiano de empresas, de famílias, de igrejas com tamanha relevância que não se vislumbra um futuro produtivo alheio a essas plataformas.
A retomada das atividades presenciais, inevitável e essencial, será efetivamente benéfica desde que integrada ao mundo midiático. E por ele complementada! Impõe-se familiarizar-se à linguagem das redes sociais. Impõe-se, igualmente, facilitar e facultar amplo acesso à informática.
O futuro, compreensivelmente incerto, demanda reciclar ideias e estratégias. A pandemia chacoalhou violentamente e de forma inesperada, mas oportuna, rotinas e valores. O ser humano, dotado de formidável capacidade de adaptação, revela estar desbravando caminhos de equilíbrio e de progresso. Uma verdade cristalina parece emergir como farol em meio às brumas: futuro promissor, normalidade realmente nova, dependerão essencialmente da consciente cumplicidade de todos. Remando juntos chega-se mais rápido ao destino. Enterra-se o individualismo. Sepultam-se ganâncias e egoísmos. Entroniza-se o respeito, autêntico e universal, fiável moderador em tempos incertos!