Tranquiliza a rotina. Dispensa esforços, pois tudo anda em ritmo de ponto morto! Contenta-se em suprir o necessário. Quando, então, aparece algo inusitado os esquemas de segurança e de eficiência enfrentam duro teste. É nas situações de imprevisto que se mede a consistência das convicções e a correspondente coragem para deliberar. Em situações de crise é que se cresce! Ou que se afunda! A pandemia do Covid-19, descontadas os assustadores índices de contágio e óbitos, carrega o mérito de induzir a humanidade a avaliar a consistência de suas convicções e preferências.
Acomodada se encontrava a humanidade, satisfeita com suas conquistas tecnológicas e tranquila em suas diversões. Pacato e confortável era o cotidiano. E de repente, a caótica turbulência. A subsistência violentamente ameaçada. Medos e incertezas abalam os sistemas de segurança, tanto no campo coletivo como individual. A saúde fica universalmente vulnerável. E a humanidade, como um todo, acorda e dá-se conta da tétrica proximidade da morte. Perder a vida deixa de ser algo para mais para frente e passa a assombrar o cotidiano. À medida que aumenta o número de pessoas próximas indo à óbito registra-se crescente pânico emocional. A fragilidade da vida e a aparente impotência diante do terrível patógeno levam ao desespero. Alastra-se a depressão. Assustada e inquieta a mente humana levanta perguntas existenciais angustiantes: que sentido tem a vida? O que há depois da morte?
Respostas teóricas, dogmáticas, existem, mas não satisfazem. Em algumas circunstâncias são até desaconselháveis! Contraproducentes! Jesus Cristo ensinou, e comprovou com sua experiência histórica, que a morte não é o ponto final da existência humana. O ser humano não existe para morrer. Existe para a eternidade, para sentar-se na companhia do Redentor à direita de Deus Pai. O destino final da ser humano é a casa eterna do Pai!
O desafio é convencer a humanidade cética desse redentor evangelho. Ao assumir a condição humana em toda sua dimensão, o Senhor Jesus abraçou este desafio e indicou o jeito certo para superá-lo. Convicto da sua vitória final, passou pela terra fazendo o bem, até o último respiro de sua vida, literalmente. Não se importou com dúvidas e questionamentos. Não ligou para aprovações nem para incompreensões.
Simplesmente seguiu em frente, determinado em fazer o bem, de maneira constante e inclusiva. E antes de retornar à casa do Pai dividiu com os primeiros discípulos, e com aqueles que viriam a crer na sua mensagem, a sublime tarefa de semear esperança na sempre turbulenta e machucada história humana, cuidando de orientá-los a manterem-se fiéis à estratégia testemunhada: amem como eu amei!
Ao recomendar enfaticamente que se devesse enfrentar adversários, renovar constantemente a abordagem, dar atenção aos necessitados, o profeta de Nazaré indicava que a esperança brotaria não tanto de discursos, mas de sinais concretos de atenção dada ao semelhante. Crer na ressurreição não significa ficar mirando o céu. A fé na vida eterna não aliena nem torna as pessoas resignadas diante de pandemias ou qualquer outra ameaça contra a vida. A fé na ressurreição age como um fortíssimo imunizante contra desânimo, contra qualquer sensação de pessimismo, contra toda passiva prostração. Contra tudo que põe em risco a vida! A fé na ressurreição semeia a vida e a cultiva no chão do cotidiano.
Crer na ressurreição é crer na supremacia da vida. É lutar em favor da vida, sempre e de forma inclusiva! É com atitudes que a vitalidade da fé se manifesta. A fé na dimensão eterna da vida rompe com a apatia da rotina! Não permite ao discípulo desplugar-se da sofrida realidade! Ao contrário, o mantém aplicado no bem, sem a ansiedade de imediatos resultados! Imunizado contra impaciência, tédio e desânimo, o fiel crente prossegue, resoluto, anunciando com gestos o evangelho da esperança.