Isabel Flores y de Oliva, a primeira santa do Novo Mundo, nasceu em Lima em 1586, de pais espanhóis, que se mudaram para a rica colônia do Peru. O nome Rosa foi um apelido posto pela empregada índia, Mariana. A mulher, maravilhada pela extraordinária beleza da menina, exclamou admirada: “Você é bonita como uma rosa!”, e desde aquele instante começou a chamá-la Rosa e não Isabel. Mais tarde quando Isabel entrou na Ordem Terceira dominicana, quis se chamar Rosa de Santa Maria, e com esse nome fez também seu ingresso no rol dos santos. Santa Rosa de Lima, a mais bela flor do Peru, canonizada em 1671, é venerada não só como padroeira da sua pátria, mas de toda a América Latina e das Ilhas Filipinas.
O que mais se admira nas vicissitudes humanas desta santa, morta aos trinta e um anos, é um inconcebível desejo de sofrimento. Um exame superficial da sua singular personalidade poderia fazer pensar que se trataria de desejo masoquista. Mas esse mundo, aparentemente infeliz, encerra em si, como garrafa cheia de bom vinho frisante, o segredo da autêntica alegria.
No Peru não havia conventos e Isabel Flores impôs a si mesma uma regra de vida austera, segundo o seu modo de ver. Ela dizia a quem a confortava durante a doença: “Se os homens soubessem o que é viver em graça, não se assustariam com nenhum sofrimento e padeceriam de bom grado qualquer pena porque a graça é o fruto da paciência”. Depois, não conseguindo explicar seus sentimentos, acrescentava: “Posso explicar só com o silêncio. O prazer e a felicidade que o mundo pode me oferecer são simplesmente sombra em comparação ao que sinto”. Mas admitia: “Eu não acreditava que uma criatura pudesse ser acometida de tão grandes sofrimentos. Meu Deus, podes aumentar os sofrimentos, contanto que aumentes meu amor por ti”.
Levada à miséria com a sua família, ganhou a vida com o duro trabalho da lavoura e costura, até alta noite. Aos vinte anos rejeitando um bom casamento, pediu e obteve a licença de emitir os votos reli-giosos em casa, como terciária dominicana. Construiu para si uma pequena cela no fundo do quintal. A cama era um saco de estopa. Cingiu a cintura com cilício doloroso, massacrando seu corpo com duras penitências. Como ficasse sozinha doente, foi acolhida pelo casal Maza, em 1614. Sabia que lhe restava pouco tempo de vida, ou melhor: conhecia o dia de sua morte. Todo ano, na festa de são Bartolo-meu, passava o dia inteiro em oração: “Este é o dia das minhas núpcias eternas”, dizia. De fato morreu no dia 24 de agosto de 1617.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.