Sagrado caráter, artigo do padre Charles Borg

Zela-se pelo bem estar da família! Espontânea atitude, oriunda de inconteste e natural impulso. O equívoco pode-se dar ao restringir o termo “família” à sua dimensão micro, focando tão somente o núcleo doméstico. Atenta e elementar análise, porém, convence que o bem estar do núcleo micro familiar depende essencialmente do bem estar coletivo no sentido macro. A família doméstica consegue alcançar decente, e seguro, patamar de bem estar, quando a família universal, composta da natureza em seu sentido amplo, igualmente atingir consistente progresso. A família doméstica está visceralmente inserida, e dependente, da família cósmica.

O ser humano é parte integral do grande cosmos. Confirma a ciência que os humanos partilham e dependem do mesmo oxigênio dos outros seres vivos. Esta verdade cientificamente aceita encontra respaldo teológico nas narrativas bíblicas da criação. Recorrendo à linguagem figurada, as duas narrativas bíblicas da criação, inserem o ser humano no grande contexto da natureza. O ser humano, mesmo qualificado biblicamente como a mais sublime das criaturas, imagem e semelhança divina, permanece, contudo, profundamente inserido no grande contexto da natureza.

Emerge conclusão natural desta verdade cientifica e teológica. Cuidar da família universal – da Casa Comum, na feliz expressão do Papa Francisco – representa não somente exigência humanitária, mas, igualmente, preceito moral. Só se consegue cuidar responsavelmente da família doméstica, caso se disponha a desdobrar-se simultaneamente em promover o bem estar da grande família, da Casa Comum. Promover a ecologia é imperativo ético. Preservar a natureza é obrigação moral!

Surge um dos desafios ingentes para a moderna civilização; compenetrar-se ser conflituoso zelar pelo bem estar da família micro – doméstica ou nacional – sem levar em conta a promoção sustentável da natureza como um todo! Urge colocar as prioridades na ordem preferencial: não é a natureza que precisa de cuidados. Ela sabe se preservar. A espécie humana precisa se compenetrar da elementar verdade que consegue sobreviver somente quando aprende a respeitar a natureza. É hora de largar a arrogância e entender que não é a natureza que precisa do homem. É o homem que precisa da natureza. Indigesta verdade assumir que o cosmos continuará existindo, mesmo sem a presença humana!

Evoluiu durante milhões de anos sem criaturas humanas. Se persistir o descaso e o desprezo pela ordem natural, fica previsível a extinção da espécie humana. Respeitar a natureza, alertam os cientistas e endossam os teólogos, representa, no fim das contas, assegurar a permanência decente da raça humana. Promover a causa ecológica não é bandeira ideológica. É premissa vital! É ética exigência e moral imposição. Os recentes acontecimentos climáticos comprovam a vulnerabilidade humana diante de sinistros fenômenos naturais! Periodicamente, a natureza deixa escapar sua revolta diante de arrogantes, sistemáticas e progressivas agressões que sofre. Avançar contra ecossistemas e biomas é flagrante desprezo pelo semelhante e soberbo insulto contra Deus! É a inconcebível decretação de agonia suicida! A espécie humana sobrevive somente se souber respeitar a Casa Comum!

Inteligência o ser humano tem. Capacitações e recursos, igualmente, possui de sobra! Falta-lhe tão somente domar a prepotência e revestir-se de redentora humildade. O impulso para trabalhar a terra nunca pode ser entendido como licença para destruí-la. A genuína promoção do bem estar do núcleo familiar repousa imperiosamente na consciente reverência pelo caráter sagrado da terra!

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