Crente bom, artigo do padre Charles Borg

“Tem gente batendo na porta”! O cardeal Jorge Bergoglio teria feito o comentário no consistório reunido para eleger o sucessor do Papa Bento XVI, que havia anunciado sua renúncia no mês anterior. Antes que fosse mal entendido, o cardeal argentino apressou-se a esclarecer que se referia a Jesus, a quem enxergava estar do lado de dentro das igrejas, batendo nas portas insistindo para que o deixassem sair. Jesus, refletiu Bergoglio, está muito preso dentro dos muros das igrejas e quer sair, quer encontrar-se com as pessoas.

Em especial, as que se encontram nas periferias sociais e existências, onde mais falta esperança. Os cidadãos do mundo, por sua vez, têm sede de encontrar-se com este Jesus que salva, muito embora nem todos reconheçam esta necessidade. Teria sido esta reflexão que reforçou ainda mais a já perceptível tendência em elevar o cardeal argentino ao ofício de Papa da Igreja Católica. Ao celebrar os dez anos do pontificado do Papa Francisco, fica evidente a proposta de abrir sempre mais as portas das igrejas para que Jesus possa sair e encontrar-se com o maior número de pessoas.

Jesus tem sede de encontrar gente! Esta é a verdade maior e mais reveladora que salta de uma leitura meditativa dos evangelhos. De fato, os quatro evangelhos podem ser resumidos como crônicas de encontros de Jesus com gente. Encontros com os mais diversos personagens, gente tocada por um filho do carpinteiro profunda e misericordiosamente envolvido com a história de cada interlocutor. Todas essas figuras que reconheceram Jesus como o dom de Deus oferecido à humanidade saíram do encontro transformadas. A vida de cada um experimentou um salto de qualidade, uma profunda guinada em sua vida pessoal. Ao compenetrar-se da benevolente proximidade de a Deus, cada interlocutor, admirável e espontaneamente, encurtou também a distância com o semelhante. A fé em Deus, por Cristo, em Cristo e com Cristo, transforma vidas, tornando as pessoas mais humanas, mais compreensivas, mais solidárias. Mais gente, em suma! E esta tem sido a história das verdadeiras conversões ao longo dos séculos, a crônica de encontros libertadores com o genuíno Jesus Cristo. Sem esta experiência de íntimo encontro não há fé, consequentemente não há conversão no âmbito individual, nem mudança no contexto coletivo.

Se Jesus é o homem dos encontros, então a Igreja precisa ser também a Igreja dos encontros. Eleito papa, o cardeal Bergoglio conclama a Igreja a abrir as portas e sair ao encontro das pessoas. Sucessivas viagens e ousados gestos, como quando o Papa beijou os pés de líderes sudaneses pedindo paz e fim de étnicos conflitos, servem para confirmar esta íntima convicção. Os cidadãos tem sede de Deus, precisam conhecer Jesus. Nem sempre o mundo reconhece esta necessidade. Resiste, não raras vezes. Aponta falhas e pecados para justificar sua desconfiança. Exibe avanços tecnológicos para declamar sua independência. Não consegue, todavia, disfarçar o desalento, esconder a desesperança, camuflar o tédio. Ao mesmo tempo em que se ufana das formidáveis conquistas, lamenta a existencial frustração que emana da sua incomoda vulnerabilidade. A alma clama por um horizonte além do material! A petulância humana não consegue matar a sede Deus! De diversas formas e de variadas maneiras tenta. Quando se imagina ter represado a corrente, eis que, do nada e de onde menos se espera, surge um filete de água a denunciar estar muito viva a fonte da fé!

Crente bom, o Papa Francisco está convicto que não há substituto para Jesus Cristo na alma humana. Nenhum outro messias preenche a aspiração por uma existência harmoniosa e fraterna. Nenhuma outra água sacia a sede de paz! Com gestos e exortações, o Papa Francisco conclama os fiéis, eles mesmos transformados em fontes de água viva pela maravilhosa experiência do encontro, a abrir as portas, sem medo e confiantes, e sair proclamar Jesus ao mundo! Urge levar o Cristo da igreja à praça!

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