Sem limites, artigo do padre Charles Borg

Suicídios traumatizam! Particularmente arrasadoras quando seus autores são jovens! Mais de 700.000 pessoas, segundo OMS, cometem suicídio por ano ao redor do mundo! Também, segundo a Organização, a tendência é que o índice aumente, em especial, entre gente jovem, abaixo de 35 anos, a ponto de algumas entidades médicas ousam classificar a crescente curva ascendente como oculta pandemia. Existe uma salutar cumplicidade entre autoridades sanitárias, policiais e jornalísticas em não divulgar esse gênero de ocorrências, tanto para não alarmar como também para não lhe dar indevida publicidade. Médicos, psicólogos e psicanalistas asseguram que esse recurso extremo sempre está cercado de situações complicadas, questões mal resolvidas, e de difícil prevenção

Previsível, obviamente, a dolorosa perplexidade no sentimento e na mente dos familiares enlutados. Agudos questionamentos torturam o pensamento, apontando possíveis descuidos, sugerindo faltas de afeto adequado, culpando omissões de aproximação. Na impossibilidade de conseguir respostas convincentes, familiares e amigos caem em culposa desolação! Agrava o complicado quadro desolador a silente, e difusa, mentalidade que considera o suicídio um pecado sem perdão. Casamento, vida social, fé, tudo desmorona! Abalo total!

Psicólogos e analistas se esforçam para consolar familiares inconformados. Compreensível, a dor de familiares e parentes é particularmente aguda. Indagações sem resposta torturam e arrasam. Na maioria dos casos, contudo, em especial em ambientes de tradicionais princípios religiosos, parentes próximos buscam luz e conforto sobrenaturais capazes de aliviar tormentos espirituais. A cena do suicida enfrentar a ira divina abala a sensibilidade e deixa desesperados parentes piedosos. Urge recordar, e com convicção, que a misericórdia divina é infinita e incomensurável. Rechaça-se, de pronto, o temor de condenação automática e eterna. Se a ciência humana entende que a agressão contra a própria vida seja um ato de extremo desespero, condicionado por fatores somente compreensíveis ao próprio agente, quando mais Deus não seja capaz de compadecer-se de tão desesperado agente! O julgamento final de todo ser humano cabe somente a Deus sempre rico em ternura e compaixão! Ensina a tradicional moral cristã que, independentemente da maneira que morre, alma alguma fica privada da misericórdia divina. Coerentemente, o zelo pastoral recomenda vivamente que se ofereça, nessas circunstâncias, aos familiares assistência espiritual fundada e alimentada na Palavra de Deus que, repetidamente, assegura a vontade de salvar a todas as pessoas. Importa mais salientar quem as pessoas são, do que as circunstâncias de seu óbito!

Emerge a importância da salutar intervenção da comunidade religiosa junto à família desconsolada. Previsível é que familiares e parentes se encolham. Receiam indagações indiscretas e curiosidades mórbidas que prestam somente para perpetuar a dor e reforçar o sentimento de culpa. Zelosa, a comunidade deve se sentir chamada a agir não com discursos piegas, mas com presença genuinamente solidária. Coração ferido se medica com o bálsamo de um abraço, se reabilita com o conforto de presenças solidárias!

A morte abala. Traumatiza quando acontece de forma trágica e inesperada. A ressurreição do Senhor Jesus, no entanto, oferece novo entendimento sobre o sentido e a dimensão da vida. A fé em um Deus, cuja bondade é sem limites, representa adicional motivo de confiante esperança e fundado consolo. Crente, coerente e confiante, a Igreja apela incessantemente à ternura divina e suplica ao Pai que acolha a todos em sua eterna morada, inclusive aos cuja fé somente Ele reconhece!

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