Espaço, artigo do padre Charles Borg

Dar atenção é uma dádiva! O mais sublime entre os presentes. Interessante observar as sutis nuanças presentes nos idiomas ao se referir à disponibilidade de dar atenção ao outro. O inglês, por exemplo, usa a expressão – pay atention – como se dar atenção fosse uma transação comercial. Por sua vez, o alemão ao falar do gesto de dar atenção recorre ao verbo oferecer, doar atenção. Pensando bem, devotar atenção a outra pessoa representa, de fato, um gesto de doação, envolve um esquecimento de si em favor do outro. Reconhece-se, reservar tempo e dedicar atenção estão se tornando disposições escassas nas apressadas e, não raramente, truncadas conversações hodiernas. O ritmo desempestado imposto sobre a vida moderna anda provocando estranhos fenômenos na maneira das pessoas se expressarem. Nota-se uma aceleração na pronúncia das palavras de tal modo ligeira que fica-se difícil entender o que o outro está querendo dizer. São frases desconjuntadas e incompletas. Além de falar rápido, sujeitos há que picotam palavras, tornando as frases incompreensíveis, exigindo enorme esforço por parte do interlocutor para entender o que o outro quer transmitir. Nota-se ainda falta de articulação na sequência do pensamento. Nem sempre há concatenação na formulação das frases, claro indício que o interlocutor fala sem prévio exame de assuntos e sem detida análise de prioridades. A formulação das palavras fica, naturalmente, embolada. Por outro lado, observa-se uma ânsia impulsiva para falar. Ora, se todos falam não há quem escuta! Nessa toada, as conversas ficam, obviamente, inacabadas e perdidas entre tantos assuntos paralelos, sem se chegar à conclusão nenhuma. No atual contexto, conversar fica não somente sem graça, mas, previsivelmente, estéril! Não se observam intercâmbios nas conversações. Na realidade, não há diálogos, mas monólogos intercalados! É um soberano conflito de egos. Sem deferência é impossível dialogar! Sem humildade fica impossível doar atenção!
Essa crescente e difusa desarticulação, segundo os estudiosos do comportamento humano, deve ser creditada à excessiva influência e contumaz interferência dos meios sociais. A incessante, e muitas vezes fútil, intromissão, acompanhada por um patológico apego à aparelhagens midiáticas, dispersa por completo o usuário tornando difícil organizar agendas e articular tarefas. Emerge espontânea e vital a necessidade de desacelerar e a urgência de livrar-se da tirania cibernética. Sabido é que tal decisão disciplinar depende, principalmente, de uma firme opinião, sustentada por rigorosos exercícios de foco e aplicadas práticas de concentração.
A natureza ensina e inspira! Observa-se como na natureza, mesmo sendo tão complexa e tão diversificada, tudo funciona em harmonia e em perfeita ordem. Criaturas subalternas e membros inferiores servem aos superiores em vista de um bem global. Fertilidade obedece estágios, frutos observam estações. Nada é apressado na natureza! Tudo é harmoniosamente compassado! Nem, por isso, falta fartura! Somente quando o homem se arroga presunçosamente a interferir que ela se rebela. Reclama respeito. Intima atenção!
Doar atenção! Disciplinar-se a ouvir. Concentrar-se. Reconhecer, na verdade, que o EU não é o centro do universo. Ao contrário, o EU alcança verdadeira maturidade quando reconhece a importância do outro. Doar atenção é realizar um sublime ato de humildade e profunda atitude de respeito, indispensável para tornar conversas conclusivas e fecundas Doar atenção é presentear o outro com o sagrado espaço que lhe é devido!

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