É de sinodalidade o caminho! É com esta expressão que o Papa Francisco encerrou a última etapa do Sínodo sobre o caráter sinodal da Igreja, iniciado há três anos. Recorda-se como no ano 2021, o Santo Padre convocou a comunidade católica a participar de um processo de avaliação da atuação pastoral da Igreja no mundo e, simultaneamente, externar anseios e apresentar propostas visando tornar mais efetiva a presença da Igreja no mundo. O conceito fundamental intencionava resgatar o protagonismo de todos os batizados como agentes efetivos do destino da Igreja. Insistia-se reafirmar, na época, que as inspirações do Espírito Santo não eram exclusivas aos ministros ordenados, mas distribuídas com igual generosidade entre todos os fieis batizados. Que mereciam, portanto, ser ouvidos. Dava-se, assim, início a um processo de evangelização e de administração, de ação pastoral, em suma, na Igreja, que privilegiava a escuta e a inclusão. O processo sinodal se propõe a resgatar e otimizar a efetiva participação de todos os batizados nas decisões a afetar a evangelização em seu mais amplo alcance. Pretende igualmente projetar uma Igreja mais voltada para acolher e curar, a semelhança das tendas que nos desertos oferecem abrigo, descanso e refrigério aos vários nômades que por eles perambulam.
Este ingente e abrangente trabalho chegou ao fim no último domingo do mês de outubro. Como já estava previsto, e em consonância com o conceito original do processo sinodal, o Papa absteve-se de publicar um documento oficial a partir dos trabalhos do Sínodo. Tal exortação apostólica colocaria uma espécie de ponto final a um processo que por sua própria natureza pretende ser um moto contínuo, dada a diversidade de situações pelo mundo como também a dinâmica inerente à vida moderna em constante processo de transformação. Nas palavras do próprio Papa, as conclusões alcançadas representam precioso presente ao povo de Deus. As propostas levantadas oferecem ainda confiáveis balizas para reforçar nas várias regiões do mundo esse jeito diferente de ser igreja, configurado pela escuta e pela efetiva participação dos batizados. Almeja-se uma abertura sempre maior à participação efetiva dos leigos, insistindo na ampliação de ministérios e serviços visando atender melhor às necessidades pastorais do povo de Deus. Estimula-se ampliar o envolvimento dos leigos nos processos decisórios, tanto nos que envolvem questões pastorais como nas administrativas. Se, de um lado, enxerga-se a necessidade de purificar a Igreja de um excesso de clericalismo, do outro, resguarda-se a autoridade dos ministros ordenados a quem cabe governar em espírito de serviço e de escuta.
Questões polêmicas, como a ordenação diaconal para mulheres e a abordagem pastoral aos vários tópicos relacionados com as questões de gênero, permanecem abertas, sujeitas a ulteriores estudos. Sobre essas questões delicadas e polêmicas, levantadas e debatidas sem censura nos vários grupos de estudo, os delegados sinodais reconhecem-se sem condições de oferecer, no momento, seguras orientações. Recomendam, todavia, ao Papa que se prossigam os estudos e as reflexões visando oferece ao povo de Deus seguro posicionamento pastoral com claro viés inclusivo.
Emerge, da análise de todo o processo realizado, a salutar convicção de que a proposta sinodal – de efetiva e ampla participação e generosa escuta – é perfeitamente possível. Solidifica-se como um caminho promissor para o futuro. Merece particular destaque, pela eloquência simbólica, o desenho e a disposição das mesas de trabalho durante a realização do sínodo. Preferiu-se o formato circular. Em volta de uma mesa redonda, todos, afinal, se veem iguais. Efetiva-se o anseio maior de Cristo Jesus; vocês todos são irmãos! Aspiração profética de uma Igreja sinodal!
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