Artigo do padre Charles Borg comenta o retorno gradual das celebrações e missas públicas

Autorizadas estão as celebrações presenciais! Alegria! Com a mudança de fase no Plano São Paulo, aguardava-se a liberação das celebrações presenciais da missa. A flexibilização das medidas restritivas não deve ser entendida como se o perigo de contágio cessasse ou estivesse controlado. O Covid-19 é um patógeno agressivo, oportunista e traiçoeiro. Advertem os infectologistas, o vírus continua ansioso em fazer novas ‘amizades’! Urge, portanto, manter rigorosa e constante vigilância.

Com tristeza observa-se que muitos persistem em fazer pouco desta pandemia, desdenham-se do isolamento, negligenciam o uso de máscaras e descuidam de hábitos sanitários. Mesmo com o advento das vacinas, esses hábitos de higiene e proteção serão incorporados no cotidiano como indispensáveis ferramentas para um convívio saudável. A normalidade será diferente.

O forçado isolamento litúrgico serviu como preciosa oportunidade para avaliar a autenticidade da fé que anima as práticas religiosas. Com frequência ouvia-se o lamento queixando-se da falta da Comunhão Eucarística. Filtrando com critério a forçada abstinência, não fica tão claro se o que anda fazendo falta é a mística eucarística ou simplesmente o rito da comunhão sacramental. Ensina o catecismo que a celebração eucarística abrange muito mais que a comunhão das espécies consagradas. A missa, em sua essência e integralidade, é uma liturgia comunitária que, em união com o Senhor ressuscitado, celebra a salvação.

Os vários ritos induzem a expressar e acentuar esta dimensão mística. Já pelo fato de a assembleia estar reunida em nome do Senhor, Jesus está presente no meio dela! Congregada, a comunidade já vive a primeira experiência de comunhão redentora! Intensifica-se a intimidade plena com o Senhor na proclamação, na escuta e na partilha de Palavra. Nas leituras bíblicas, especialmente no Evangelho, é Jesus que fala e interpela a assembleia. Ao aderir à Palavra ouvida, a comunidade une-se a Cristo, Pão da Palavra descido do céu: quem crê em mim tem a vida eterna, nunca mais terá fome e sede. A presença real do Senhor Jesus, na celebração eucarística, não se restringe somente às espécies consagradas. Ele está realmente presente na reunião dos fiéis, na proclamação da palavra e na consagração do pão e do vinho, em vista da sua consumação. I

Insiste o catecismo que comunga Cristo de verdade o fiel que a ele adere incondicionalmente. Ao reunir-se com os irmãos em espírito fraterno genuíno já se está em comunhão Cristo. Ao ouvir e acolher sua Palavra proclamada na liturgia comunga-se igualmente o Cristo vivo. Ao receber as espécies eucarísticas em sintonia com a Palavra meditada e assumida completa-se a permanência em Cristo. Entende-se que a comunhão com o Senhor Jesus se dá em várias instâncias, alcançando seu ápice na consumação dos elementos consagrados. Comungar as espécies eucarísticas sem estar em comunhão de mente, coração e alma a Cristo não passa de um ritual piedoso. Estanque, muitas vezes!

Une-se a Cristo no ato de recebimento do pão consagrado quem já está em sintonia íntima com ele na reunião dos irmãos e na escuta reverente da Palavra! Pretensa ilusão imaginar estar se unindo a Cristo quem faz pouco da reunião com os irmãos e quem não se aplica na escuta da Palavra!

Mesmo com a autorização das celebrações presenciais, muitos, justificadamente, ainda receiam aglomerar-se. Persiste o perigo de contágio! Nem por isso, porém, devem se sentir privados da Comunhão. Mesmo unidos, virtualmente, com seus irmãos, na condição de ouvintes atentos e receptivos da Palavra, comungam Cristo de verdade. Chama-se isto de Comunhão espiritual. Aos fiéis que involuntariamente se veem privados de consumir as espécies eucarísticas, assegura-se a faculdade de viver a mística eucarística, verdadeira e santificadora. De pronunciar, em suma, de forma reverente e comprometida, o eucarístico amém!

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