Padre Charles Borg: luz é Jesus

Natal é luz! Luz é vida, é descontração! Luz é calor, é comunhão! Particularmente na celebração do Natal deste ano, imperioso se faz o recurso à luz! Vive-se como se em exílio estivesse! Reuniões festivas, mesmo entre familiares, seguirão rígidos cuidados, restringindo manifestações de afeto, tolhendo descontrações. Pesarosos, muitos deixarão de participar das tradicionais funções religiosas. O Natal do ano 2020 será marcado por uma alegria melancólica e por saudosas recordações. À bem da verdade, o primeiro Natal da história também esteve emoldurado por medos e incertezas.

Na Palestina da época, um impiedoso inimigo ameaçava a paz e a tranquilidade do povo da região. A alma do povo hebreu clamava por libertação e repetia os versos do salmista: até quando nos esquecereis, Senhor Deus? Até quando retardais vossas promessas? O doente quer remédio, o aflito busca alívio! Ora, justamente para um povo que andava nas trevas, acabrunhado, a voz do profeta anunciava alto o surgimento de uma luz brilhante! Emoldurado por intensa luz, nasceu o Filho de Deus! Festa de luz é o nascimento do Filho de Deus! Na Judeia de então, havia luzes, mas faltava a luz verdadeira a folgar a alma.

No tempo presente, são muitos os neons que brilham. Ressente-se, todavia, àquela luz que acende o brilho do olhar, que restaura a esperança aos corações. Paradoxalmente, a pandemia contribui decisivamente para redescobrir a real dimensão do nascimento do Filho de Deus e alegrar-se com a almejada luz em meio a tantas sombras.

Urge resgatar o sentido bíblico da virtude da esperança. Para a Bíblia, esperar é cultivar certezas. A esperança bíblica alimenta-se principalmente da fé na Palavra de Deus! Crer na Palavra é viver a certeza de seu cumprimento. Esperar é andar resoluto! As virtudes da fé e da esperança emolduram a narrativa do nascimento de Jesus! Ao receber o anúncio de ter sido a escolhida para ser a mãe do prometido Salvador, Maria demonstrou a maturidade da sua fé questionando detalhes, argumentando procedimentos.

A jovem era simples, mas não ingênua! Convenceu-se ao ouvir a sentença: para Deus nada é impossível! No seu tenro coração feminino intuía que é próprio ao amor surpreender. Havia aprendido que Deus amava seu povo com amor eterno, apaixonado. Ora, quem com tanta intensidade ama transgrede regras, mesmo sendo as da natureza. Não há limites para um generoso amor. Ao pronunciar o seu SIM, Maria afirmava acreditar na força do amor divino e passou a cultivar a certeza na redenção da humanidade.

Creu na Palavra e esperou no amor. Seu período de gestação não foi livre de sobressaltos, nem de conjugais tensões. A fé na Palavra e a esperança no amor de Deus iluminaram a sua alma, como aqueceram igualmente a alma de José, seu esposo. Legítimo imaginar o jovem casal conversando e rezando à luz de lamparinas na humilde casa de Nazaré!

Naquele recinto, a iluminação não vinha de fora, emanava de crentes corações! Legítimos filhos da luz, enxergavam na luz de Deus a luz que vinha iluminar a história. Afinal, finalidade principal da luz é indicar caminhos! Reduzida era a luz externa naquele lar, imenso, todavia, o brilho interno! Intenso e irreprimível! Luzes externas são facilmente apagáveis! Força alguma abafa interna luz!

Extasia contemplar os criativos jogos de iluminação a decorar avenidas, praças e lares neste período de festas! Enlevam e alegram porque, de maneira plástica e furtiva, acenam ao anelo da alma por aquela Luz transcendente que não conhece ocaso. Acolhendo Jesus, que é a Luz, a alma se inunda de contagiosa e perene claridade. Forte e impagável é a luz que da alma emana. A luz do Natal!

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