Comunhão e ternura, artigo do padre Charles Borg

Maria concebeu Deus! A frase – e a realidade que expressa – é um verdadeiro assombro. Discurso algum consegue esgotar tão magnífico mistério. Diante da Theotokos, diante da mãe de Deus, a única atitude sensata é a contemplação. Reverente contemplação. Não é sem razão que a definição do dogma, lá nos idos do século IV, tivesse gerado a primeira grande fissura na túnica inconsulta que era a Igreja. Mentes meticulosas consideravam uma afronta invocar Maria como mãe de Deus. De fato, essa dignidade só podia acontecer por iniciativa do próprio Criador. Afinal, foi ele quem escolheu Maria para gerar seu Filho único, a segunda pessoa da Trindade Santa, segundo a carne. Ora, se se consente que o Filho de Maria é o Verbo feito carne, e o Verbo era Deus, então, pela lógica do raciocínio, Maria concebeu Deus. O ser que gerou em seu seio é a segunda pessoa da Santa Trindade, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro! Sublime mistério e reverente!

Singular criatura, Maria, a bendita entre todas as mulheres, se destaca pela exemplar modéstia. Curioso e educativo observar como a despretensão de Maria contrasta com seu inegável papel na obra da redenção. Em tempos quando se valoriza tanto a projeção de influenciadores, Maria se apresenta como salutar referência. Ela assume conscientemente a tarefa de servidora e a exerce com singela discrição e exemplar fidelidade. Sua precípua preocupação não é chamar a atenção sobre si. São raras suas manifestações nos evangelhos. Todas, no entanto, têm seu Filho divino como referência. Em sua única fala no evangelho de João, Maria indica e resume o programa de vida de toda pessoa que almeja ser discípula de Cristo: façam tudo o que ele pedir! Seu olhar, seu coração, sua vida focam unicamente seu amado Filho e sua missão redentora. Nada mais gratificante para uma mãe, assegurar preferência para o filho! Curioso como certas pessoas, mães inclusive, recusam enxergar em Maria este traço tão peculiarmente materno. Incompreensível como alguns projetam Maria como se estivesse disputando hegemonia cultual com seu Filho!

Absurdo conceito! Quem contempla com consciência e pureza de intenção a pessoa de Maria, percebe-se naturalmente induzido a aproximar-se do Filho amado. Desde o primeiro momento da concepção, Maria se coloca ciente que o Filho que nela estava sendo gerado constituía o sublime dom de Deus para o mundo. Não era dela nem para ela, mas para a redenção da humanidade. Acolhendo sua escolha, ela, naturalmente, torna-se a primeira e a mais íntima colaboradora na obra da redenção. Permitido é deduzir que nem sempre ela entendia as estratégias divinas. Como, por outro lado, meditava tudo em seu coração, silenciosa e respeitosamente acompanhava a jornada do Filho amado. Com ele se alegrava! Com ele sofria. Com ele chorava. Em sintonia, com ele rezava! Emerge inefável mistério. A mãe do Filho do Criador nem hesita confessar-se servidora. É mãe, mas também redimida pelo próprio Filho, o verdadeiro e único Senhor do universo e Redentor de todas as pessoas! É Filho, mas também Senhor de sua mãe! Admirável mistério de comunhão e ternura!

Com justiça projeta-se Maria como modelo e inspiração para todas as mães. Em sintonia com todas, conheceu alegrias, medos, hesitações. Como poucas, experimentou a dor profunda da rejeição e da morte violenta do Filho amado! Apreensivas e angustiadas diante de um mundo confuso e ameaçador, as mães fitam os olhos na Virgem em busca de luz e orientação. Decidida e convicta, ela repete o infalível programa: façam o que ele pedir! Preces e louvores a Maria naturalmente encontram eco no Filho divino.
FELIZ DIA DAS MÃES!

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