Diálogo, educação e trabalho, segunda parte do artigo do padre Charles Borg

“Formosos são os pés do mensageiro que anuncia a paz”! Inspirado neste tema, o papa Francisco dirige a todas as pessoas de boa vontade sua tradicional mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado no primeiro dia de cada ano. Apresento mais alguns trechos selecionados desta mensagem com o objetivo de levar aos leitores a reflexão do Papa.
“Nos últimos anos, diminuiu sensivelmente a nível mundial o orçamento para a instrução e a educação, vistas mais como despesas do que como investimentos. Instrução e educação são os alicerces de uma sociedade coesa, civil, capaz de gerar esperança, riqueza e progresso. Aumentaram as despesas militares, ultrapassando o nível registrado no termo da “guerra fria”, e parecem destinadas a crescer de maneira exorbitante. Aliás, a busca de um real processo de desarmamento internacional só pode trazer grandes benefícios ao desenvolvimento dos povos e nações, libertando recurso financeiros para serem utilizados de forma mais apropriada na saúde, na escola, nas infraestruturas e no cuidado do território. Faço votos de que o investimento na educação seja acompanhado por um empenho mais consistente na promoção da cultura do cuidado. É necessário, ainda, forjar um pacto que promova a educação para a ecologia integral, segundo um modelo cultural de paz, desenvolvimento e sustentabilidade, centrado na fraternidade e na aliança entre os seres humanos e o meio ambiente.
O trabalho é um fator indispensável para construir e preservar a paz. Constitui expressão da pessoa e dos seus dotes, mas também compromisso, porque se trabalha sempre com ou para alguém. Nesta perspectiva acentuadamente social, o trabalho é o lugar onde aprendemos a dar a nossa contribuição para um mundo mais habitável e belo. A pandemia Covid-19 agravou a situação do mundo do trabalho. Os trabalhadores precários estão cada vez mais vulneráveis; muitos daqueles que despenham serviços essenciais são ainda menos visíveis à consciência pública e política; a instrução à distância gerou, em muitos casos, um retrocesso na aprendizagem e nos percursos escolásticos. Particularmente devastador foi o impacto da crise na economia informal.
Esses trabalhadores vivem em condições muito precárias, expostos a várias formas de escravidão e desprovidos de um sistema de previdência que os proteja. Não se deve procurar que progresso tecnológico substitua o trabalho humano. O trabalho é uma necessidade, faz parte do sentido da vida, é caminho de maturação, desenvolvimento humano e realização pessoal. Urgente é promover condições laborais decentes e dignas, para o bem comum e a salvaguarda da criação. O lucro não pode ser o único critério-guia.
Enquanto procuramos unir esforços para sair da pandemia, quero renovar meus agradecimentos a quantos se empenharam e continuam a dedicar-se com responsabilidade para garantir instrução, segurança e cuidados médicos a tantas famílias. Faço apelo a quantos têm responsabilidades politicas e sociais para caminharmos juntos pelas estradas do diálogo, da educação e do trabalho. Com coragem e criatividade, com humildade e tenacidade mais pessoas se dispõem a se transformar em artesãos da paz. O Deus da paz abençoe a todos.
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