Estende a tua mão, artigo do padre Charles Borg

Perto do fim do Ano Litúrgico, o Papa Francisco convida os católicos a dedicar um domingo para refletir sobre a pobreza e a situação dos pobres no mundo. Dirige oportunamente uma mensagem para animar a reflexão. Este ano a reflexão tem como inspiração uma frase tirada do Livro de Ben Sirac: estende a tua mão ao pobre (7,32). A partir deste texto, o papa Francisco elabora uma densa reflexão. Selecionei trechos desta reflexão como o duplo intuito de divulgar o pensamento do pontífice e estimular a leitura na íntegra desta oportuna mensagem.

“A pobreza assume sempre rostos diferentes, que exigem atenção a cada condição particular: em cada uma destas podemos encontrar o Senhor Jesus, que revelou estar presente nos seus irmãos mais frágeis. O rosto de Jesus e o rosto do homem concreto são duas realidades intimamente conexas. A comunhão com Deus e a solidariedade com pobres e enfermos são inseparáveis. A bênção do Senhor que desce sobre nós e a oração alcançam o seu objetivo, quando são acompanhadas pelo serviço aos pobres. A comunidade cristã é chamada a coenvolver-se na experiência da partilha, ciente de que não é lícito delega-la a outros. O clamor silencioso de tantos pobres deve encontrar o povo de Deus na vanguarda para solidarizar-se com eles. Não se pode sufocar a força da graça de Deus pela tendência narcisista de colocar sempre a si mesmo no primeiro lugar.

Estender a mão leva a descobrir, antes de tudo a quem o faz, que dentre de nós existe a capacidade de realizar gestos que dão sentido à vida. Quantas mãos estendidas se veem todos os dias. Nestes meses, em que o mundo inteiro foi dominado por um vírus que trouxe dor e morte, pudemos ver tantas mãos estendidas: mãos de médicos, de enfermeiros e enfermeiras, de farmacêuticos, de sacerdotes, de voluntários a socorrer quem mora na rua, mãos que desafiaram o contágio e o medo, a fim de dar apoio e consolação. A pandemia colocou em crise muitas certezas. As nossas riquezas espirituais e materiais foram postas em questão e descobrimo-nos amedrontados.

Amadureceu em nós a exigência de uma nova fraternidade, capaz de ajuda recíproca e estima mútua. As graves crises econômicas, financeiras e políticas não cessarão enquanto permitirmos que permaneça em letargo a responsabilidade que cada um deve sentir para com o próximo. ‘Estende a mão ao pobre’ é um convite à responsabilidade, sob forma de empenho direto, de quem se sente parte do mesmo destino.

A Palavra de Deus nunca nos deixa tranquilos e continua a nos estimular para o bem. Que contraste com tantas mãos que teimam permanecer nos bolsos. Ou daquelas outras que se estendem para, num toque, deslocar ingentes somas de uma parte do mundo para a outra, decretando lucro para poucos e miséria para multidões. Ou daquelas outras que ganham com venda de armas e drogas, que exploram e corrompem. Não poderemos ser felizes enquanto essas mãos que semeiam morte não forem transformadas em instrumentos de justiça e paz para o mundo inteiro.

A vida exige um projeto a realizar e um caminho a percorrer sem cansar. O projeto e o caminho só podem ser o amor, a mão estendida ao pobre.”

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