Excelência, artigo do padre Charles Borg

Difícil é a vida! É a realidade existencial que acompanha o ser humano onde quer que se encontre. O desafio se origina não apenas por conta de situações exteriores, alheios ao domínio pessoal. Reside, principalmente, no constante imperativo de fazer escolhas. Viver exige tomar atitude. Relutar optar, por outro lado, corrói a essência da vida. Curioso constatar que a cada quilômetro andado surgem bifurcações que obrigam tomar novas decisões.
Este ritmo perpétuo, esta imperiosa exigência de fazer escolhas, explica o difuso desânimo que ameaça tomar conta do ser humano, particularmente em tempos modernos. É perceptível a sensação de cansaço, de enfado mesmo, que se alastra entre as pessoas. Sem cair num pessimismo doentio, o avanço tecnológico, dominado pela crescente invasão das chamadas inteligências artificiais que insistem em tomar as decisões pelas pessoas, contribui decisivamente para o alastro da sensação de apatia. As tarefas rotineiras, cada vez mais robotizadas, favorecem o surgimento de uma preguiça contagiosa, de uma acomodação psicológica, que transmitem ilusória sensação de conforto.
Além de roubar a graça do imprevisto, esta ambígua sensação de bem estar gera paulatinamente situações de pânico e de desconforto toda vez que a pessoa se vê defronte a situações que demandam tomar decisões ou definir rumos diante dos inevitáveis desafios do cotidiano. Notório é o clima de hesitação e de inércia que, progressivamente, toma conta das pessoas, particularmente entre os mais jovens, favorecido marcadamente pelo receio de expor-se. Para não falhar, o cidadão prefere não correr riscos! Opta pelo lugar comum; em outras palavras, deixa que outros decidam por ele. Declina subir o sarrafo. Recusa voos mais personalizados!
Persiste, todavia, o anelo para uma existência com propósito. Reconhece cada indivíduo possuir inato estímulo para avançar, para progredir sempre mais. Reconhece-se dotado de inteligência que o capacita a fazer melhor! Inata e insistente é a busca por excelência! Emerge, naturalmente, a crise existencial entre acomodar-se ou capacitar-se para enfrentar desafios. Impõe-se escolher entre a mediocridade do repetitivo e a excelência do ideal! Intimamente intui que viver inerte não é o mesmo que viver realizado. Urge dar vazão ao impulso de afirmação que teima perturbar o sossego da alma acomodada. Urge decidir mexer-se! Libertar-se do receio de expor-se. O revés integra a logística do progresso. Erros sempre são sanáveis. Basta ter a hombridade para reconhecê-los.
E a humildade para refazer caminhos! Êxito não é sinônimo de indefectível competência. Os santos são postos como exemplo porque reconhecem ser pecadores, arrependidos, todavia, e convertidos. Êxito é consequência da saudável ambição de corresponder ao íntimo impulso de avançar. De subir o sarrafo. De vencer, em suma, a letargia e buscar fazer sempre melhor. Atenta-se, nem sempre fazer o melhor encontra aprovação popular. Acertos não dependem de ruidosos aplausos. Genuínas benfeitorias não se medem por imediatas recompensas.
Nem se sujeitam a rubricas contábeis. Opta-se pela excelência para atender ao íntimo apelo de seguir sempre em frente, sem desistir! Vencer a mediocridade dignifica a existência. Buscar a excelência de jeito algum torna a vida mais fácil. Preenche a alma, todavia. Enleva o espírito!

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