In Memoriam, tema do artigo desta semana do padre Charles Borg

Pode ser uma imagem de montanha, natureza, céu e lago
Eternidade recompensada! Divulgou-se, dia desses, proposta de um magnata prometendo recompensar com milhões de dólares quem apresentasse provas concretas da existência da vida após a morte. Justo especular em que se dariam as reações desse milionário ao certificar-se da real possibilidade de vida após a morte. Estaria ele cogitando comprar suposto elixir ou um lote nas moradas eternas? Ao convencer-se da dimensão cristã da eternidade, ficaria certamente feliz ao descobrir que a vida eterna custa muito pouco, um pouco de muito amor, como registra a bela canção do Pe. Zezinho!
O ponto de partida nessa questão relaciona-se com a fé. O cristão crê na vida eterna. A fé antecede provas. Acredita-se na vida eterna porque assim Jesus ensinou com sua palavra e, especialmente, com sua própria história ao ressurgir vitorioso sobre a morte naquela venturosa madrugada. A certeza na dimensão eterna da vida repousa na fé em Jesus Cristo. A fé não afronta a ciência, apenas a suporta em assuntos que ultrapassam sua competência. Estabelecida esta verdade, encontram-se argumentos que consolidam a certeza da dimensão eterna da vida humana. Observa-se como na natureza nada morre, tudo se transforma progressivamente. A morte como fim absoluto não encontra respaldo na corrente vital da criação. A consciência humana, de resto, reconhece em si profundo anelo pela vida. O ser humano quer viver e percebe em se forte impulso pela vida. Coerente, não digere a ideia de um fim definitivo. A possibilidade do vazio definitivo afronta a inteligência humana.
A certeza da vida eterna, dentro do contexto cristão, não é alienante. O crente, moldado pelas verdades de Senhor Jesus Cristo, não fica olhando para o céu. Nem se resigna diante das adversidades e dificuldades da vida. A fé na vida eterna insere o crente, de maneira envolvente, nas vicissitudes do cotidiano. A dimensão eterna o induz a valorizar cada instante da própria existência como também cada detalhe referente à vida do semelhante. Ciente que a existência humana não tem fim, valoriza e cuida do dom precioso da vida por Deus concedido. Convicto da esperança da eternidade, o crente zela pela sua saúde, busca avançar na felicidade e reconhece-se responsável pela integridade de seu semelhante. A certeza da vida eterna torna a pessoa reverente, agradecida e profundamente humana!
Emerge singelo paradoxo na visão cristã da dimensão eterna da vida: ao mesmo tempo em que zela pela vida em todas as suas manifestações e etapas, o crente vive em desapego material. Cultiva serena convicção que o material é passageiro, que a permanência no mundo material é efêmera. Um desapego que longe de ser confundido com pouco caso, suscita admiração e reverência, em particular com a existência de outros seres humanos. A fé na vida eterna torna o crente particularmente humano, como exemplarmente humana foi a jornada de Jesus Cristo em sua passagem pela Palestina. Na inspirada expressão do apóstolo Paulo quem crê na vida eterna vive desde já no compasso da ressurreição.
Se o tal magnata deseja mesmo ter certeza que a vida prossegue após a morte, basta-lhe apenas mudar a chave: deixar de pensar na eternidade e mergulhar-se no cotidiano com sentimentos de genuíno humanismo e com propósitos de generosa caridade. Neste compasso, a vida adquire profundo sentido, reveste-se de beleza e propósito transcendental. Intensa é a vida porque é eterna! Ecoando o genial escritor André Frossard; se as pessoas permanecem tão vivas em nossas franzinas memórias mais vivas ainda subsistem na memória divina!
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