Somos naturalmente conectados! Explicam os antropólogos que em sua condição de criatura o ser humano vive em sintonia atômica com o universo, em comunhão química com a natureza e em estreita ligação biológica com os demais seres humanos. Graças a um processo de evolução natural, o gênero humano, instintivamente, inclina-se a conviver em pacífica harmonia! Emerge triste e trágica constatação: a lamentável divisão entre os seres humanos agride o processo natural da evolução. O contexto fica ainda mais desolador ao verificar que o esgarçamento é provocado pelo próprio ser humano! Entre todos os seres vivos conhecidos, a família humana é a única classe que trabalha conscientemente contra a própria natureza! O Homem causa sofrimento em seres da mesma espécie! Mesmo dotado de formidável inteligência, dominando vastos conhecimentos, desenvolvendo estupendas tecnologias, a raça humana patrocina sua própria destruição! Inconcebível processo de autodestruição, patente nas tantas frentes de antagonismos que marcam o relacionamento humano. A divisão, por obvio, retarda o progresso, macula a imagem, cria diferenças, fomenta desigualdades. Causa sofrimentos. Gera ressentimentos. Alimenta animosidades. O Livro Sagrado retrata com cirúrgica precisão este absurdo embate na parábola de Caim e Abel. O grande pecado da raça humana é o fratricídio. E sempre por motivo torpe: inveja, dominação, intolerância, ganância, ambição, ….
A redenção, compreensivelmente, consiste em recuperar a natural e biológica harmonia. O processo, curiosamente, passa por um básico e elementar requisito: considerar e respeitar a inata dignidade de todo ser humano! Convencer-se que o outro, seja ele quem for, merece idêntica atenção, possui iguais direitos. Compreender que as diferenças, sendo contingentes, não afetam o denominador essencial, o núcleo básico. São, na maioria das vezes, fruto de convenções arbitrárias, engendradas para garantir privilégios, justificar dominações e patrocinar intolerâncias. Confunde-se união com uniformidade e define-se, frequentemente apoiado na força das armas, do dinheiro e da religião, quem merece tratamento digno e quem deve se contentar com a condição marginal, cidadão de segunda categoria, a quem se nega não somente a possibilidade de acesso às migalhas que caem das fartas mesas dos nobres, mas até o direito de existir! Injusta, cruel e desumana é a humilhação que a classe dita “civilizada” impõe sobre uma imensa multidão de gente, excluindo-a, pelos fúteis motivos de cor, de raça, de gênero, de opção sexual, de cultura, de participar e usufruir-se de benesses e progressos que, por justiça, devem ser universais. Beira o cinismo, neste contexto de consentida violação de dignidade, as pontuais e ruidosas campanhas humanitárias. Mitigam os efeitos, mas recusam eliminar as causas.
O Mestre de Nazaré inaugurou o caminho da reabilitação. O resgate se dá a partir de uma radical mudança de pensar e de agir que ele encarnou e viveu. Assumindo a condição humana, não somente tornou-se gente, mas escolheu privilegiar a classe dos invisíveis. Igualou-se a todos, menos na maldade. Nunca condenou os socialmente excluídos, embora censurasse com severidade seus detratores. Misturou-se com os mais simples. Com suas mãos levantou, literalmente, os caídos. Declaradamente identificou-se com os miseráveis de todos os tempos. Escolheu, como principais colaboradores, gente, em sua maioria, humanamente desqualificada. Demonstrou, com atitudes, que dignidade se garante com respeito, que a solidariedade nunca pode ser paternalista, que caridade se exerce com compaixão! Religião sem misericórdia é frívola. Paciente e pedagogicamente, insistiu com os seus que ao orarem invocassem Deus como “Pai Nosso”, incutindo neles o fundamental princípio e o redentor valor que, de fato, diante dele todos os seres humanos são iguais!
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