Ovo e a conduta humana, artigo do padre Charles Borg

Dieta alimentar demanda discernimento! Houve época quando alguns alimentos eram terminantemente banidos do cardápio do cidadão que pretendia levar vida saudável. Houve época quando o ovo era visto como vilão, demônio a ser fervorosamente exorcizado. Luiz Fernando Veríssimo reclamou indenização dos nutricionistas que o obrigaram a abster-se da sua iguaria preferida quando finalmente chegou-se à conclusão de que o ovo não provoca nenhum dano à saúde. Ao contrário, passou-se a recomendar seu consumo! É consenso não existir nenhum alimento proibido. Com moderação e bom senso, embasado em conhecimento fundamentado, fica perfeitamente saudável satisfazer o paladar e deliciar-se com toda espécie de comida. A analogia aplica-se para todas as áreas da vida: conhecimento embasado é pré-requisito fundamental para todo e qualquer progresso equilibrado.

Da mesma forma que se interessa em preservar o físico saudavelmente nutrido, urge-se aplicar-se em manter a mente e o espírito sapientemente informados. Literatura balanceada e pesquisa aplicada mantêm a mente alerta e o espírito vigoroso. Nesses tempos de comunicação fácil, farta e veloz torna-se especialmente imperativo filtrar informações, como também aplicar-se em consultar literatura genuinamente consistente.

Assim como o fast food, a longo prazo, prejudica a saúde física, informações repetidamente levianas e comentários tendenciosos atrasam o amadurecimento intelectual e impedem objetividade no discernimento e serenidade nas exposições. O imperativo de estudar, aprofundar e ampliar o horizonte do conhecimento faz-se hoje especialmente necessário, por causa da polarização exacerbada que marca o debate moderno. Observa-se preocupante e difusa tendência, mesmo entre pessoas escoladas, de consultar somente aquela literatura que combina com o próprio jeito de pensar. Acomoda-se em ler, ver ou ouvir temas repetidos, comentários previsíveis. Incorre-se numa preguiça intelectual, tóxica e presunçosa. Previsivelmente, este procedimento provoca conceitos bitolados e teses prefixadas, com distorcidos reflexos na compreensão da realidade e subsequente dificuldade no intercâmbio de ideias. Debates tornam-se ríspidos, com evidente aumento de ansiedade e tensão, frequentemente descambando para intolerâncias e ofensas. Navega-se, intelectualmente, no piloto automático, equivocadamente protegido por uma capa culturalmente impermeável. Enorme fica o empobrecimento cognitivo. Aflitiva a esterilidade do debate.

É preciso humildade para crescer no conhecimento. Amplia o entendimento quem reconhece, modestamente, que não sabe tudo e é capaz de admitir que mesmo naquilo que imagina saber ainda sobra espaço para retoques e avanços. Prepotência emperra entendimento. Arrogância aborta pesquisas. É preciso amor à sabedoria para ajustar ideias e coragem para aprimorar conceitos. Urge estudar com mente leve e inteligência aberta. Imperativo se faz manter-se atualizado e equilibradamente informado. Inclusive em assuntos religiosos e teses espirituais. O entendimento do dogma, como qualquer outro campo de conhecimento, é dinâmico. Somente assim se consegue falar com sabedoria e ensinar com amor! Fosse de outro jeito, ainda estaria proibido consumir ovo!

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