As Américas passam por caótica situação. Tanto nos Estados Unidos como também em muitos países latino-americanos não bastasse a devastação provocada pela escalada de infectados e óbitos causados pela pandemia, as populações enfrentam crises de natureza política. No norte, a indignação diante da estúpida e cruel morte do cidadão negro reacende o conflito racial. Inconformados e divididos, os americanos invadem ruas em protestos ruidosos, ignorando distanciamento.
No hemisfério sul, crises institucionais, inoportunas e artificiais, também dividem cidadãos, provocando protestos de rua, espaço mais do que fértil para aumentar a velocidade do contágio. A ameaça de superlotação hospitalar é aguda e alarmante. O que mais se precisa neste momento é de união de forças contra este inimigo comum, a pandemia, devastador e inclemente, e assim reduzir, no menor tempo possível, as dolorosas e multifacetadas consequências da moléstia.
Muito se tem feito, reconheça-se. Multiplicam-se formidáveis e generosas iniciativas de solidariedade. Considerável ainda é o número de cidadãos que vive aflito porque, integrando a chamada faixa de risco, se vê podado de colaborar, receoso diante do real risco de contágio. Não há angústia maior que sentir-se impotente diante do sofrimento alheio. O cidadão está pronto para ajudar, mas vê seu impulso abortado por fundadas restrições. Total desolação! A impossibilidade de realizar algo de concreto provoca ainda, em almas sensíveis, agudo sentimento de culpa.
Uma participação na coluna de leitores em um jornal católico norte-americano chama atenção. O missivista, de nome Bill, partilhou sua tormenta interior. Mesmo idoso e portador de comorbidades tem consciência que pode e deve contribuir para aliviar as crises porque passa seu país. Sabe que sua situação não aconselha exposição temerária. Inconformado, não admite, porém, permanecer resignado. Buscando uma saída, ocorreu-lhe um hábito que praticava, ainda criança, com sua avó. Ao rezar o terço, a avó dedicava cada dezena a uma intenção particular. E fazia aquilo com extrema devoção.
Bill confidencia que decidiu reavivar a prática. Ao rezar o terço, dedica cada dezena em intenção a várias categorias de necessitados, começando pelos doentes, passando para os agentes de saúde. Sem esquecer os que lutam pela justiça social. Faz questão, ainda, de reservar uma dezena pelos governantes, pedindo discernimento e compaixão!
Assumir estar orando por alguma intenção pode insinuar esquiva de responsabilidade, sutil disfarce de folgada acomodação. Para a pessoa de fé, no entanto, orar é envolver-se. Partilhar com Deus dores e angústias, alegrias e esperanças expressa profundo comprometimento com a realidade, fundado na serena convicção que prece alguma fica sem resposta, porque elevada a um Deus que é Pai e que ama e se importa! Confiante fala o coração na oração! Não se envergonha a alma que põe em Deus sua esperança! Bill acredita e ora fervorosamente, assim como aprendeu com sua avó!