Padre Charles Borg: a semelhança do perfume, fé se perde unicamente por negligência

Perdi a fé! Confissão esta que está se tornando cada vez mais frequente, lamentavelmente! Debate-se muito em torno de uma explicação convincente para a ocorrência de tal fenômeno. Uma análise serena aponta que vários podem ser os fatores externos a contribuir para a perda da fé. Não se pode, contudo, deixar de considerar valores outros internos, subjetivos, que também colaboram decisivamente para a estagnação da fé.

Uma confidência partilhada faz pouco talvez ajude a formar uma compreensão mais realista da ocorrência desse fenômeno espiritual. Dizia um amigo que há tempo ganhou, como presente, uma colônia. Em atenção ao doador, abriu o vidro e manifestou apreço pelo agradável odor. Tinha gostado mesmo do perfume. E o guardou para ocasiões especiais.

Resultado de imagem para frasco de perfume evangelhoMeses depois, lembrou-se da colônia e decidiu usá-la. Surpresa, a líquido tinha evaporado. Reparou, então, que ao guardar o frasco, deixou de fechá-lo corretamente e com o tempo a colônia evaporou. Perfeita alegoria aplicável à perda da fé! Se não for bem guardado, o dom da fé recebido de Deus através da família e da Igreja pode, sim, evaporar! E quando for precisar dele, experimenta-se a desagradável decepção de encontrar apenas um casco oco! Por falta de cuidado perde-se a fé.
Preserva-se o dom da fé de várias maneiras, todas relevantes e correlatas.

O primeiro exercício envolve a prática da oração, entendida como um encontro íntimo e intenso com Deus! Ora quem se habilita a dedicar a Deus tempo exclusivo e atenção reverente. Vivenciada neste compasso, a oração introduz o sujeito no inefável mistério dos propósitos divinos, intensificando naturalmente a permanente comunhão com Deus. Intimamente ligada a este exercício, emerge outra prática indispensável para manter vibrante a fé: a constante leitura meditada da Palavra Sagrada.

A Bíblia contém o projeto divino para uma vida com propósito, a partir de uma realidade fundamental: o incondicional amor de Deus para com cada ser humano. Toda instrução revelada no Sagrado Livro expressa e conduz a esse amor eterno! É nesta perspectiva que se deve ser ler os textos do Sagrado Livro! Focados na lente do incondicional amor divino, as mensagens bíblicas são avaliadas mais preciosas que o ouro fino, mais saborosas que o mel que escorre dos favos! Alimentado, o espírito naturalmente se extravasa em celebrações! Assídua, consciente e fecunda participação nos sacramentos, em especial no sacramento da Eucaristia, é reforço indispensável para manter acessa a chama da fé. Por outro lado, o regular e negligente distanciamento da missa invariavelmente enfraquece a fé. Sentimentos secam quando se opta inibir sua manifestação!

A Eucaristia é o alimento da alma, indispensável sustento do cristão! Conscientemente celebrada, a Eucaristia estimula a comunhão entre os irmãos. Promove a solidariedade. Não se ama a Deus sem progredir no amor ao próximo! A prática do genuíno amor fraterno mantém acesa a chama da fé! Fé sem obras é fé morta!

Precioso e vital é o dom da fé! Diligentemente guardado e sabiamente cultivado, esse dom preserva seu encanto. A semelhança do perfume, fé se perde unicamente por negligência!

Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

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