Padre Charles Borg: derrotas

Valiosa escola é o esporte! Reúne a atividade esportiva preciosos ingredientes para educar, especialmente atletas jovens, na postura civilizada, particularmente em um país como o nosso, onde o desporte desponta como uma das diversões mais impactantes. Pela mesma razão, maus exemplos de esportistas prestam sobremaneira para deseducar. Projetados como ícones, atletas e dirigentes estão sempre em evidência, para o bem e para mal.
A recente final masculina do campeonato paulista de futebol oferece oportuna referência. É do jogo ganhar ou perder. A maneira de reagir diante do resultado revela maturidade e equilíbrio dos principais atores, com presumível impacto sobre o comportamento dos cidadãos, principalmente de torcedores. Chama atenção algumas posturas deselegantes do time perdedor – na condição de palmeirense fico confortável nas observações – findo o jogo. A postura esportiva recomenda que o perdedor reconheça a vitória do adversário e o cumprimente pelo êxito. Viu-se, na cerimônia da premiação, que os jogadores do time verde simplesmente se retiraram do campo, sem disfarçar o pouco prestígio pela medalha de vice-campeão. Atitude que desmerecia o feito de o time ter alcançado a final.
Ser finalista também revela méritos e cabia principalmente aos jogadores valorizar o feito. Para completar o descaso, o capitão do time ficou sozinho na hora de receber o troféu, retirando-se melancólico do palco. Esta forma de agir, concede-se, é frequente em jogos de futebol no país. Neste caso particular, todavia, a deselegância adquire dimensão especialmente impactante uma vez que o time alviverde adotava como lema “todos são um”. Ora, se assim fosse de verdade, o time todo tinha que estar presente e acompanhar a premiação. Se o time saísse campeão, com certeza, jogadores, comissão técnica e dirigentes posariam orgulhosos para fotos e comemorações!
Nas entrevistas após o jogo, a tônica dos comentários da comissão técnica prosseguiu-se no mesmo diapasão, minimizou o sucesso do adversário e deixou de reconhecer seus méritos! A Sociedade Esportiva Palmeiras desperdiçou preciosa oportunidade educativa de mostrar a seus torcedores, e às demais torcidas, o jeito digno de comportar-se em derrotas. Grandeza se expressa também em revezes.
Perder faz parte da contingência da vida. Não é só nos desportes que se perde! Revezes acontecem com frequência e é preciso estar preparado para enfrenta-los com dignidade e diligência.
É de se reparar, lamentavelmente, que bom número de cidadãos não aceita sofrer revezes. Difusa está se tornando a incapacidade de aceitar derrotas, postura revigorada, infelizmente, pela prepotente atitude do derrotado presidente dos Estados Unidos nas últimas eleições naquele país. A arrogância de Trump parece estar fazendo escola pelo mundo! Intolerável presunção pretender estar sempre certo, estar sempre por cima, reveladora, por certo, de traumas não resolvidos e limitações não admitidas. Derrotas são tão necessárias para um equilibrado amadurecimento quanto êxitos! A natureza, terapeuticamente, impõe periódicos revezes com o salutar propósito de induzir a avaliar procedimentos e a corrigir rumos. Está a pandemia a comprovar. Ignorar essas advertências é indicativo de obtusa soberba. Aproveitar-se delas para reconsiderar preferências e ajustar estratégias sinalizam amadurecida sabedoria! Gente humilde aproveita e cresce nas derrotas.
Saber perder com dignidade e administrar derrotas com humildade é distintivo de madura personalidade. As disputas esportivas representam espaço privilegiado, e contínuo, para exercitar-se na capacitação de administrar revezes. Perder com honradez é meio-caminho andado na direção de progressivos avanços e futuras conquistas! Frustrante é perder, sem dúvida! Feio é não saber perder!
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