Padre Charles Borg em homenagens às mães: eco

A mulher mexeu com o coração de Jesus! Registra o evangelista Mateus momentoso encontro entre Jesus e uma mulher pagã, uma cananeia sem nome. Esta aproxima-se do Mestre e implora por sua filha gravemente perturbada. Jesus não dá atenção e segue caminho. A mãe cananeia insiste, a ponto dos discípulos sugerirem que Jesus afastasse a intrometida. Ele faz mais: afirma que não é correto tirar comida de filhos e dá-la a cachorros. Afinal, os destinatários privilegiados da sua missão eram os filhos de Israel.

A mulher não se dá por vencida, apesar do desaforo. Reage e comenta que até os animais se satisfazem das migalhas que caem da mesa dos filhos. Tocado pelo apaixonado amor pela filha, Jesus cede, atende a mulher e cura a filha. O amor de mãe mexeu com o coração de Jesus! O amor materno sempre encontra eco no terno amor de Cristo!

Várias reflexões emergem deste episódio emblemático. Quando está em jogo a saúde dos filhos, a mãe enfrenta qualquer desafio. Não há distância, não há obstáculo capaz de impedi-la buscar o que for melhor pelo filho. Contesta Deus, se for preciso. A cananeia não se importou com a humilhação, conquanto a filha alcançasse a cura. O inegociável, para a mãe cananeia, era o bem estar da filha, a própria dignidade ficava em segundo plano! Zelo de mãe é único, insubstituível, incondicional!

Minimiza renúncias e se abastece de energias oriundas de inesgotáveis reservas. Encontra paralelo, e inspiração, no incomensurável amor de Deus para com a humanidade. Atesta a Bíblia que o Criador também ama apaixonadamente sua predileta criatura. Por ela foi até o limite, oferecer seu Filho em resgate por todos. A mãe, igualmente, disponibiliza incondicionalmente a própria vida para salvar um filho. Pena que nem todas as mães demonstrem o mesmo zelo quando se trata de saúde espiritual!

Transparece a impressão que a vitalidade espiritual é menos valiosa que a integridade física. O que é evidentemente grave equívoco! A religião, quando verdadeira – existem, sim, religiosidades manipuladas e alienantes – completa a dignidade humana! O ser humano precisa de Deus com a mesma urgência que o navegador necessita de bússola para manter-se firme em seu plano de navegação. Crer é, fundamentalmente, reconhecer a necessidade que se tem da presença divina na própria existência. A íntima e contínua comunhão com Deus assegura inabalável alicerce para uma subsistência permanentemente vigorosa e fecunda. Árvore plantada a margem de rio encontra-se sempre viçosa! Saúde integral, equilíbrio mental, realização plena, somente em comunhão com o divino!

Na sequência do encontro com a cananeia, é possível enxergar nas entrelinhas outra impactante verdade. Equivocada é a religiosidade que se esgota em preceitos e tradições. Ao recusar seguir postura legalista intransigente, o Mestre denuncia a desumanidade de uma religião excludente. Caso persistisse em ignorar a súplica da mãe, Jesus engessaria Deus, sujeitando seus favores ao rigor das tradições. Contaria, certamente, com a aprovação de zelosos judeus. Contraria, contudo, o fundamental preceito divino de amar, sem seleção, ao próximo. Jesus se apresentaria legalmente puro, mas moralmente indigno. Nem tudo o que é legal é moral! O ponto alto da religião não é o ritual, mas a misericórdia que faz o olhar enxergar o sofrimento e insta o sentimento a estender a mão. A comunhão com Deus é garantia de existência íntegra e subsistência fecunda!

Intercedam por seus filhos, mamães. Incessantemente! Amor de mãe sempre encontra eco no terno amor divino!
FELIZ DIA DAS MÃES!

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