A vida é eterna! O ser humano é imortal! Enfaticamente a Palavra de Deus feita carne – Jesus Cristo – proclama esta verdade universal em suas pregações, e a confirma exemplarmente no mistério da sua ressurreição. Urge refletir sobre a dimensão transcendental da vida a partir dos vários encontros do ressuscitado registrados pelos evangelistas. Um destes episódios marcantes – tema de diversas maravilhosas obras de arte – é o encontro entre Jesus ressuscitado e Maria Madalena, acontecido na manhã da ressurreição. Os detalhes inseridos no registro pelo evangelista ajudam a compreender melhor a boa notícia.
Maria dirige-se ao túmulo logo de madrugada, quando ainda está escuro. Procura um cadáver. Urge insistir, os discípulos, mesmo os mais próximos, não esperavam ver Jesus ressuscitado. Embora o mestre tivesse, repetidas vezes, feito alusão à ressurreição, o mistério lhes escapava. Para eles a morte representava o ponto final da existência. Ao chegar próximo ao sítio, a piedosa mulher vê o túmulo aberto, mas nenhum corpo. A primeira reação foi pensar que alguém tivesse roubado o corpo. Não bastasse ter crucificado Jesus, os inimigos maquinam ainda sumir com seu cadáver. Desolada, a mulher chora. Nisto Jesus se põe a seu lado e indaga pela causa do choro. Imaginando tratar-se do jardineiro, a mulher pergunta se não foi ele quem escondeu o corpo. Jesus, então, lhe chama pelo nome! Ela reconhece o Messias e busca agarrá-lo num impulso de extremo afeto. Jesus, então, pronuncia a famosa frase: não me toques – NOLI ME TANGERE, em latim. Não me segure, pois ainda não subi para a casa do meu Pai!
Começa a desvendar-se o maravilhoso mistério da existência humana. A morte não representa o fim da vida. Jesus prega esta verdade de várias maneiras ao longo de seu ministério. Oferece sinais desta verdade ao devolver a vida a Lázaro, à filha do Jairo, ao filho da viúva de Naim. O sinal mais impactante, no entanto, se dá com sua própria ressurreição. Ao sair vivo do túmulo, Jesus enfatiza que a vida não termina com a morte. A morte não é fim, mas passagem – páscoa – para uma nova realidade. Esta nova realidade também intriga a inteligência humana. O que vem após a morte é enigma que aflige a mente desamparada da luz da fé.
Na resposta a Maria Madalena, Jesus confirma o que havia dito aos discípulos na véspera da sua paixão: é bom para vocês que eu vá, pois estou indo preparar para vocês um lugar na casa de meu Pai! Emerge o destino final da história de cada ser humano: ser acolhido na casa do Pai. Enuncia-se solenemente a razão final da existência humana: habitar eternamente na casa do Pai! Ao insistir com Maria, desejosa de segurá-lo, Jesus lhe confidencia, que se, de verdade, o amava, permitiria que ele alcançasse seu destino final, retornar à casa do Pai!
Enfrenta-se, com frequência, idêntica situação de aflição vivida por Maria, particularmente quando alguém muito próximo falece. É compreensível que o amor que se tem por pessoas queridas induza querer as segurar, impedindo que passassem para a casa do Pai. A morte sempre é dolorosa pelo vácuo no sentimento que provoca. Quando, todavia, se compenetra – iluminado e confortado pela fé na ressurreição – que a morte representa esta feliz passagem para a casa do Pai, a dor e a tristeza da separação ficam amplamente suavizadas pelo consolo da imortalidade na morada eterna! O inevitável abatimento provocado pela física separação fica altamente aliviado ao acreditar estar a pessoa amada sendo recebida com amor e alegria nos braços do Pai Eterno! Não me impeçam de partir, suplica silenciosamente a alma crente!