O cálice ficou menor! Com sóbria prudência, os bispos estão aconselhando a suspensão das celebrações litúrgicas. O fácil contágio do Coronavírus impõe incômodas mudanças na rotina do cotidiano. Dúvidas angustiam e incertezas intranquilizam! Algumas fundadas, outras sem nenhum suporte científico. Fato é que a população mundial terá que conviver com esta ameaça por mais alguns meses. Recomenda-se vivamente evitar desnecessárias aglomerações, reforça-se a vigilância rigorosa com a higiene pessoal e coletiva. Urge aprimorar a divulgação de informações balizadas tanto para evitar histérico pânico como também para incorporar medidas seguras de prevenção pessoal e coletiva.
Louva-se o empenho das autoridades em saúde pública em manter a população informada e orientada. Por outro lado, merecem severas censuras cidadãos e lideranças que ignoram o perigo do contágio como também religiosos que pregam milagres de imunidade e cura. Agir com prudência é reflexo de responsabilidade cívica e obrigação da caridade fraterna.
Todo esse contexto aponta para indigestas verdades: apesar de toda pose, o ser humano permanece miseravelmente vulnerável. Um invisível vírus provoca consideráveis estragos em nível global, debochando da tão decantada inteligência humana. Faz bem ao homem ser mais humilde. Afinal, não é tão poderoso como imagina! Verdade outra que emerge destaca a importância de um saudável convívio e respeitosa consideração entre cidadãos e nações.
A origem e o rápido alastramento do vírus se devem à negligência de cidadãos com a saúde própria e dos outros, aliada à omissão de autoridades em retardar com a implantação e a execução de eficientes medidas preventivas. Por outro lado, louva-se a formidável cooperação, em âmbito global, para combater a moléstia e encontrar a vacina capaz de imunizar pessoas. Num mundo tão globalizado, nenhuma nação fica protegida. Tanto para o bem como para o mal, indivíduos e povos estão ficando sempre mais interdependentes. Distantes, cidadãos e nações naufragam. Unidos, triunfam!
Inestimáveis vantagens nascem, em situações parecidas, quando ciência e religião trabalham juntas. Os profissionais de saúde e os religiosos, em conjunto, com o devido respeito à identidade de cada área, formam formidável frente de combate à doença. Reservam-se ao médico as providências ambulatoriais e, especialmente, as orientações preventivas. Ao religioso cabe ilustrar que ao seguir essas orientações, o fiel estará, de forma concreta, expressando sua fé e conformando-se ao código moral.
Afinal que sentido tem professar a fé na comunhão do povo de Deus e recitar o mandamento do amor fraterno, pedras básicas da religião cristã, se em situações delicadas como essas, ignorar ou mesmo afrontar as orientações médicas. É em gestos e atitudes que a fé e a caridade se manifestam genuínas. Acredita-se, sem dúvida, na força da prece. Sem a ação correspondente, todavia, a prece não passa de oca piedade.
Ora et labora – ore e opere – recomendava São Bento a seus monges! A presente situação recomenda vivamente seguir o sábio lema beneditino. Que se ore muito, mas que se opere também com diligência e responsabilidade.
Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba
1 Comentário
Parabéns pelas sábias e importantes palavras, neste momento em que o povo de Deus precisa de luz para orientar o caminho da transformação