Padre Charles Borg: películas

“Deus não existe”! É bíblico, está no salmo 13, com todas as letras! Fica claro que textos bíblicos, tirados do contexto, podem ser usados até para questionar a existência de Deus! Nada estranho que ao longo dos séculos, pessoas manipulam a Palavra de Deus de acordo com suas conveniências. Com a óbvia intenção de confundir pessoas crédulas. E as desencaminhar.

Este tipo de manipulação acontece em todas as esferas da vida, com predileção particular no campo político. Lideranças políticas, de todas as ideologias e tendências, amam citar a Bíblia para dar verniz religioso a seus postulados. Não é de Bíblia que se trata. Nem de religião. O objetivo é mostrar que sua política segue orientações divinas. Tentam, assim, ampliar apoios e granjear popularidade. Emerge a necessidade de constantemente manter limpos os filtros para não cair em armadilhas oportunistas.

É sempre motivo de desconfiança quando, em assuntos que em nada tem a ver com a religião propriamente dita, pessoas usam a Bíblia como bandeira. Extremamente benéfica foi a separação entre Estado e Religião, com maiores vantagens para as Igrejas. Sempre que governos e políticos buscam identificar-se com Igrejas, de qualquer credo, ou servir-se delas, acabam prestando a elas enorme desserviço, pois as induzem a trair seus princípios mais sagrados.

Aconteceu com as religiões cristãs, tanto católicas como protestantes. E está acontecendo novamente com a islâmica. A explicação é muito simples; administrações tratam de assuntos profanos, volúveis e plurais. Acomodar interesses e administrar vaidades demanda, por óbvio, fazer concessões, negociar, ceder em aspectos para avançar em outros. São muitas, e nem sempre honestas, as pressões, dificultando sobremaneira posicionamentos coerentes, condutas éticas, integridades morais.

O político oportunista usa a Bíblia enquanto esta lhe for útil. Repara-se sútil e ilustrador detalhe: este tipo de pessoa pública cita ou usa aqueles textos e frases que lhe são convenientes. Seleciona verdades. Pinça frases e as manipula para acomodar seus interesses. Ensinamentos outros mais radicais e comprometedores são habilmente descartados. Quando, pois, a Bíblia deixa de servir, ou começa a questionar, o jeito é simplesmente trocar de manual.

O carreirismo e os acordos oportunistas costumam prevalecer sobre apelos religiosos. E fatalmente chega a hora de escolhas. É a hora de o político revelar ser mais ardiloso que religioso. É a hora de o religioso militante testemunhar agir mais pela integridade da Palavra que pelos arranjos políticos. A história, inclusive a mais recente do nosso país, mostra isso com meridiana clareza. Não se pode cair no mesmo erro! Urge, portanto, não morder a isca, não imaginar que administrações políticas querem, citando a Bíblia, promover credos ou moralizar costumes. Confissões e lideranças religiosas são aduladas enquanto prestam vassalagem.

A religião, em especial a cristã, não precisa de defensores.

A Palavra não carece patrocinadores. Se sustenta em suas próprias verdades. Sua luz é própria e naturalmente irradia. Por amor a Deus e por amor ao ser humano, a quem é chamada a servir incondicionalmente, a religião zela pela integridade da mensagem bíblica e preza manter-se independente. Com o consciente propósito de proclamar as verdades evangélicas, independente da administração do turno. O Evangelho é seu compromisso primeiro, valor inegociável. Por ele iluminada, apoia em assuntos que merecem ser apoiados. Censura, com idêntica liberdade, o que merece ser reprovado. Livre e independente não faz concessões para agradar nem se apequena diante de possíveis retaliações. Religião e política são realidades distintas, não necessariamente opostas. A melhor manifestação de consideração que uma instituição pode prestar à outra é respeitar sua independência de atuação.

Sagrada e soberana é a Palavra de Deus! Demanda integral fidelidade! Expô-la para servir a interesses políticos ou ideológicos é grosseira irreverência e confissão explícita de mal intencionada manipulação. Não é de Bíblia que se trata. Nem de religião! Trata-se de esconder-se atrás de uma película para maquiar a realidade!

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