
Em seu pontificado, o Papa Francisco realizou gestos que traduzem e reforçam suas mensagens para a Igreja e a humanidade inteira. Não só com palavras e documentos, ele apontou para uma Igreja em saída, misericordiosa, que cuida da criação, vive o amor na família e promove a fraternidade humana.
Relembre alguns dos inúmeros gestos que marcaram o pontificado do Papa Francisco e ficaram registrados nas memórias, corações e na história da Igreja.
– O Papa que pede orações ao povo de Deus
Logo após ser apresentado ao mundo, na sacada central da Basílica São Pedro, o Papa Francisco surpreendeu os milhares de fiéis que lotavam a praça ao saudá-los com um simples “Boa noite” e, em seguida, inclinar-se pedindo orações por sua missão à frente da Igreja Católica.
– O Papa que chora com os migrantes
Em 8 de julho de 2013, Francisco fez a primeira viagem de seu pontificado: à ilha de Lampedusa, no extremo sul da Itália. No local, o pontífice quis manifestar sua proximidade aos migrantes que tinham conseguido atravessar o Mediterrâneo e chorar por aqueles que morreram na travessia. O gesto deu início às diversas iniciativas em vista de acolher, proteger, promover e integrar os migrantes.

– O Papa junto do povo
Em julho de 2013, o Papa Francisco fez sua primeira viagem apostólica, durante a Jornada Mundial da Juventude, no Brasil. Na ocasião, vários momentos marcaram a memória daquele primeiro contato do pontífice em outro país junto com o povo de Deus. Um exemplo foi o abraço no menino Nathan de Brito, à época com 9 anos, que conseguiu furar o bloqueio e partilhar com o Papa seu desejo de ser padre.

– O Papa que visita as periferias de Roma
Em várias ocasiões durante seu pontificado, o Papa Francisco saiu do Vaticano para fazer visitas surpresas na periferia de Roma. Famílias, instituições que atuam com jovens ou com pessoas que enfrentam problemas mentais foram visitadas pelo pontífice e receberam palavras de apoio e incentivo. Essa presença também ocorreu nas paróquias da periferia da diocese de Roma, escolhidas por Francisco para encontros com o clero.
– O Papa que aponta para a globalização da esperança
No dia 28 de outubro de 2014, o Papa reuniu-se com os movimentos populares, que realizavam, em Roma, o seu primeiro encontro mundial. Em audiência, proferiu um discurso que poderia ser definido como “programático”, indicando os três Ts (terra, teto e trabalho) ponto fulcral da ação destes grupos que atuam em nome da dignidade humana, da justiça social, do desenvolvimento dos mais pobres e dos descartados. O pontífice voltou a encontrar os movimentos em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia (2015), e dirigiu-se a eles nos encontros seguintes.
Na Bolívia, Francisco afirmou: “a globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença”.
– O Papa que mostra o rosto misericordioso de Deus
Em 2015, Francisco convocou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Misericordie Vultus foi o título da Bula de Proclamação. O Ano Santo foi oportunidade para contemplar o mistério da misericórdia, “fonte de alegria, serenidade e paz”. Para essa ocasião, Francisco marcou o início adiantado do ano jubilar na África. A primeira Porta Santa foi aberta em Bangui, na República Centro-Africana, uma terra marcada pela guerra e sofrimentos.
– O Papa que lamenta a crueldade
Assim como seus predecessores, João Paulo II e Bento XVI, o Papa Francisco visitou os campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, onde milhares de judeus foram feitos prisioneiros e mortos pelo regime nazista. Naquela ocasião, em julho de 2016, marcada pelo silêncio e oração, Francisco escreveu no Livro da Memória do Museu de Auschwitz: “Senhor, tem piedade do teu povo! Senhor, perdão por tanta crueldade!”.
Em várias oportunidades, o Papa falou que a humanidade não deve repetir o extermínio ocorrido na Polônia.

– O Papa que sente o sofrimento dos Povos da Amazônia
“Provavelmente, nunca os povos originários amazônicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios como estão agora”. Essa frase do Papa manifestava sua preocupação com a vida dos povos indígenas, durante o encontro que reuniu mais de 3 mil pessoas em Puerto Maldonado, no Peru, em 18 de janeiro de 2018.
O encontro foi marcado por testemunhos e um longo discurso do Pontífice, em que o Papa manifestou a sua preocupação pela ameaça que os povos e o território da Amazônia estão sofrendo. O evento foi marcante no processo de realização do Sínodo para a Amazônia, ocorrido no ano seguinte, culminando com a exortação apostólica Querida Amazônia.
– O Papa que celebra o Matrimônio
Mesmo que o Sacramento do Matrimônio seja celebrado pelos nubentes, o Papa Francisco demonstrou celebrar, no sentido exaltar e valorizar, a união de amor entre o homem e a mulher. Em algumas oportunidades, ele fez questão de assistir noivos na união diante de Deus, como em 2018, quando presidiu a missa no casamento de uma jovem brasileira com um ex-guarda-suíço.
Também demonstra essa valorização a convocação de duas assembleias sinodais sobre a família, a exortação apostólica sobre o amor na família e o ano “Família Amoris Laetitia”, cinco anos depois da publicação do documento pós-sinodal.
– O Papa que beija os pés em nome da paz
Em gesto sem precedentes no Vaticano, o Papa Francisco ajoelhou-se e beijou os pés de líderes do Sudão do Sul que viviam em guerra pelo controle do país. No dia 11 de abril de 2019, ao concluir um retiro espiritual para a paz com autoridades civis e eclesiásticas do país, o pontífice apelou que eles não voltassem a travar uma guerra civil pelo poder.
“A vocês três que assinaram o Acordo de Paz, peço-lhes, como irmão, que permaneçam na paz. Peco-lhes com o coração. Vamos seguir em frente. Haverá muitos problemas, mas não tenham medo, vão em frente, resolvam os problemas. Vocês iniciaram um processo: que termine bem. Haverá lutas entre vocês dois, sim. Que elas ocorram dentro do escritório; diante do povo, as mãos unidas. Assim, de simples cidadãos, vocês se tornarão Pais da Nação. Permitam-me pedir isso com o coração, com os meus sentimentos mais profundos”, disse o Papa.
– O Papa que aposta na fraternidade humana
Em 2019, o Papa assinou com o grande imã de Al-Azhar, Ahmed Al-Tayeb, líder muçulmano, uma declaração conjunta de boas e leais vontades, capaz de convidar todas as pessoas, que trazem no coração a fé em Deus e a fé na fraternidade humana, a “unir-se e trabalhar em conjunto, de modo que tal documento se torne para as novas gerações um guia rumo à cultura do respeito mútuo, na compreensão da grande graça divina que torna irmãos todos os seres humanos”. A declaração é considera precursora da encíclica Fratelli Tutti.
– O Papa que recorda que estamos no mesmo barco
Numa Praça de São Pedro vazia e debaixo de chuva, o Papa atravessava rumo à porta da basílica. Uma das imagens mais emblemáticas de seu pontificado, num momento desafiador e de sofrimento para a humanidade inteira. Eram os primeiros meses da pandemia de Covid-19 e Francisco promovia um “momento extraordinário de oração” com a bênção Urbi et Orbi (Para a cidade e o mundo).
Meditando o Evangelho no qual Jesus acalma a tempestade (Mc 4, 35), o Papa ressaltou que, naquele momento, todos estavam no mesmo barco e eram chamados a remar juntos, despertando e ativando a solidariedade e a esperança.
“O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor. No meio deste isolamento que nos faz padecer a limitação de afetos e encontros e experimentar a falta de tantas coisas, ouçamos mais uma vez o anúncio que nos salva: Ele ressuscitou e vive ao nosso lado. Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança”.


– O Papa que busca a paz
A palavra pontífice já traz consigo a referência de construir pontes. E assim Francisco quis fazer diante dos inúmeros conflitos que ocorrem no mundo todo, que marcam como que “uma guerra mundial em pedaços”. Ucrânia, Palestina, Israel, Líbano, Mianmar, Sudão e Kivu do Norte foram frequentemente lembrados nas orações do Angelus, junto com um clamor pela paz.
Essa preocupação do Papa se traduziu nas ligações diárias à paróquia Sagrada Família, em Gaza, onde dezenas de pessoas conseguiram abrigo para se protegerem dos ataques de Israel. Mesmo depois do cessar fogo e da sua internação, o Papa continuou com as ligações.
O Papa que ensina a partir de sua debilidade
Francisco não deixou de levar mensagens importantes mesmo com sua fragilidade durante o longo período de internação e após a alta do hospital. Quando possível, ele continuava a ligar para a paróquia em Gaza. Depois de retornar para a Casa Santa Marta, sua primeira aparição pública foi no Jubileu dos Enfermos e do Mundo da Saúde. Francisco quis estar próximo e se fazer com um daqueles peregrinos.
Em outras aparições, o Papa dedicou suas orações diante dos túmulos do Apóstolo Pedro e São Pio X, e do monumento dedicado a Bento XVI, na Basílica de São Pedro. No dia 16 de abril, teve um encontro com a diretoria e funcionários do Policlínico Gemelli, onde esteve internado por 38 dias. O Pontífice agradeceu a atenção e a assistência recebidas e garantiu suas orações e, em seguida, sua saudação a cada um dos presentes. Na última quinta-feira, Francisco quis manter a tradição de visitar uma prisão por ocasião do lava-pés. Assim, ele esteve na prisão Regina Coeli, em Roma.
“Todos os anos, gosto de repetir o que Jesus fez na Quinta-feira Santa, o lava-pés, na prisão”. E acrescentou: “Este ano não posso fazê-lo, mas posso e quero estar perto de vocês. Rezo por vocês e por suas famílias”, disse o Papa.
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