Para os pastores, foram os anjos! Para os magos, foi a estrela! Para Herodes e sua corte, foram as profecias. Para o mundo contemporâneo, são os evangelhos! Não importam tempo nem localização nem circunstâncias nem meios, proclama-se o anúncio do nascimento do Filho de Deus! A iniciativa do Pai Eterno de reconciliar todas as coisas, ‘as da terra e as do céu’ no seu Filho único, gerado no ventre de Maria, é levada ao conhecimento da humanidade. A proclamação não visa apenas registrar o acontecimento. Sua principal intenção, catequese maior, mira definir o grau de relacionamento com o Menino gerado pelo venturoso anúncio. Herodes e seus conselheiros, tomados de pavor e insegurança, articulam eliminá-lo.
Alucinados, matam inocentes. Semeiam terror. Recusam a luz, engrossam as trevas! Pastores, atiçados pela curiosidade, dirigem-se à Belém, cidade do pão, em busca de Menino deitado em manjedoura, agasalhado em panos. Tomados de grande alegria, rudes pastores espalham a notícia, contagiando companheiros. Guiados por uma estrela, chegam pagãos magos do oriente em busca de um novo rei. Quando encontram, se rendem, igualmente, diante da mística e singela aspiração.
Despretensiosamente, curvam-se e adoram o Menino, oferecendo-lhe ainda suas riquezas! Emerge a figura da mãe Maria, que contempla e medita em silêncio! Desponta a catequese evangélica: o pouco caso diante do anúncio do nascimento acentua e prolonga as trevas! A acolhida gera alegria, aproxima povos, faz renascer a esperança da paz na terra! O Natal do Filho de Deus e Filho de Maria sublime mistério é!
Em linguagem teológica, mistério indica verdade que ultrapassa, sem agredir, a capacidade cognitiva da inteligência humana. Inspira progressiva e reverente meditação. O mistério induz a experimentar a peculiar sensação de um entendimento permanentemente inesgotável. O sábio Agostinho comenta que o sujeito que imagina ter assimilado o mistério, na realidade, nada compreendeu! Palavras, fórmulas e liturgias estimulam a busca pelo entendimento, assim como aconteceu com Maria, com os pastores e com os magos. Ao ouvir mensagens e captar sinais, se desinstalaram, dispuseram-se ir ampliar o entendimento do enunciado.
Começa a assimilar o mistério o cidadão que, independente de sua cultura, dispõe-se aproximar-se em reverente contemplação. A celebração do nascimento do Filho de Maria é muito mais que recordação de história antiga. É pedagógica e catequética provocação para que aquele que conhece se compenetre com mais profundidade da sublime iniciativa divina que, por amor, decide devolver à humanidade sua original dignidade. Esta é a síntese do mistério inefável: Deus ama o ser humano! Com o Homem se importa. Simples verdade, de inesgotável dimensão com profundo envolvimento e existencial comprometimento. Os homens só começam a se importar com Deus quando entendem que ele se importa com eles, genuinamente!
Crentes ou pagãos, praticantes ou acomodados, todos evocam o Natal. A questão permanece idêntica à tensão provocada há dois mil anos: o grau de interação com o mistério anunciado. Quem permanece fechado no seu ‘eu’, recusa reconhecer que Deus provê melhor as urgências humanas. Rejeita, como Herodes, desinstalar-se. A arrogante pretensão persiste como a maior ameaça à beatitude humana. Por outro lado, quem reconhece o incondicional amor divino e seu genuíno interesse pelos destinos humanos, rebaixa-se agradecido e reverente diante do Menino-Deus. Interage com humildade, como os pastores fizeram, os magos e Maria.
Celebrar anualmente o nascimento de Jesus é uma urgência existencial e catequética, oportuna ocasião para avançar na contemplação reverente do mistério do eterno amor divino, encarnado na frágil figura de um recém-nascido, compenetrando-se, simultaneamente, da inerente dignidade humana que somente em Deus encontra sua verdadeira realização. Os de puro coração interagem com o mistério! Agraciados se percebem com irreprimível alegria!
FELIZ NATAL!