João Roberts foi o primeiro monge executado na Inglaterra, após o advento de Henrique VIII.
Nasceu no condado de Merioneth em 1576. Sua família era católica de coração, mas conformista. Ele entrou em Oxford em 1593, aos 19 anos. Em 1598, foi a Londres para estudar direito; as escolas de direito eram focos de “papismo”. Fez uma viagem a Paris, onde um católico inglês o converteu; foi então recebido na Igreja católica por um cônego de Notre-Dame. Em outubro de 1598 foi admitido no Colégio de Valladolid na Espanha. O prestígio do mosteiro vizinho de São Bento influenciou este inglês, muito lembrado da evangelização de sua pátria por monges beneditinos enviados por são Gregório Magno, sob a chefia de santo Agostinho de Cantuária. Entrou, pois, no mosteiro dos beneditinos de são Martinho de Compostela, onde emitiu a profissão em 1600, com alguns ingleses, prometendo estabilidade e clausura perpétua.
Roma autorizou o projeto de uma missão beneditina na Inglaterra. Completados os estudos em Salamanca, Roberts desembarcou em sua pátria. Traído, foi detido, depois solto graças ao advento de Jaime, em maio de 1603. Passou para Douai, mas como uma terrível peste grassou em Londres no verão de 1603, ele voltou para socorrer os doentes. Em fevereiro de 1604, os padres foram banidos por ordem do rei; Roberts foi detido no momento em que estava para partir para a Espanha para o Capítulo Geral. Foi encarcerado, de 1605 a 1606, em Gatehouse; sua pena foi suavizada devida à intercessão de uma senhora espanhola, Luísa de Carvajal. Exilado, partiu para a Espanha; organizou depois o priorado de são Gregório em Douai, do qual foi o prior. Em outubro de 1607, João Roberts passou novamente para a Inglaterra, onde foi preso a 17 de dezembro. Preso em Gatehouse, conseguiu escapar mais uma vez. Mas em 1609 foi novamente preso e novamente libertado, desta vez, graças à intervenção do embaixador da França. Voltou para a Espanha, onde trabalhou pela aprovação do priorado de são Gregório.
Voltou à sua pátria, mas foi novamente preso; compareceu a 5 de dezembro diante de Abbot, bispo anglicano de Londres, que lhe exprobrou o exercício do sacerdócio contra a lei. A 8 de dezembro tomou conhecimento de sua condenação. Não teve senão palavras de perdão para seus adversários e de oração pelo rei.
Na prisão se desenrolou uma cena semelhante às últimas horas do Salvador com seus discípulos. A bondosa Luísa de Carvajal alimentava os presos com excelentes tortas de pêra e foi convidada a participar da última refeição. Roberts perguntou-lhe se não achava excessiva a sua alegria. “Não, pois vós não podeis fazer melhor do que mostrar com que alegre coragem ides para a morte pelo Cristo”. Uma mulher chamada Margarida Ashe, que preparava as refeições dos sacerdotes presos, juntamente com uma companheira, fizeram questão de lavar os pés do beneditino.
A 10 de dezembro, João Roberts abençoou os ladrões que deveriam ser executados juntamente com ele e partiu para Tyburn, o lúgubre cadafalso, situado perto do atual Hyde Park, em Londres. Foi-lhe permitido falar ao povo, em cuja fala relembrou santo Agostinho de Cantuária. Depois trocou o ósculo da paz com o padre Somers, seu companheiro de morte. E gritou tão claramente quanto possível: “Fora da Igreja não há salvação!”. Rezou pelo rei, lamentou o monstro da heresia. Vendo brasas acesas, ainda teve uma palavra de humor sobre o quente almoço que se preparava. Suas últimas palavras foram: “Todos os santos e santas de Deus, intercedei por nós”. Antes, alguém lhe oferecera um boné para proteger a cabeça, e ele respondeu com um sorriso: “Não receio mais a dor de cabeça”.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.