Twenty Four, por padre Charles Borg

Tragédias assustam. Imprevistos interpelam! Em uma mesma semana, sinistros acontecimentos sacudiram a opinião publica. A assustadora ameaça do novo coronavírus, a trágica morte do astro de basquete norte-americano, Bryant Kobe e as destruidoras enchentes em Minas e o Espírito Santo. Os paralelos entre esses sinistros impressionam e alertam. O mundo gaba possuir recursos tecnológicos adequados capazes de prever chuvas volumosas, como também de evitar tanto o surgimento de um vírus tão letal, como também sua impressionante disseminação.

O mesmo raciocínio vale para a fatal queda do helicóptero que transportava o jogador e seus acompanhantes.

Emerge desses tristes acontecimentos uma dura verdade que o ser humano reluta admitir: a vida humana é frágil. A existência, um enigma. Nem os formidáveis progressos tecnológicos, nem a prosperidade material garantem ao homem total controle sobre sua existência. O salmista, na Bíblia, compara a pujança humana a um sopro, a uma flor que desabrocha bela pela manha, mas pela tarde fenece e fica seca! Por mais indigesta, é a verdade com a qual o ser humano precisa aprender a conviver.

O mesmo salmista, refletindo sobre esta provocadora condição, dirige a Deus uma prece em que suplica o entendimento para compenetrar-se da efemeridade da vida humana. A cultura moderna, focada demais no imediato, no gozo e na vaidade, esboça reações conflitantes diante da temporariedade da vida. Uma escola sugere aproveitar intensamente cada instante – desfrute o agora, porque o amanhã é desconhecido.

Escola outra dissemina pessimismo, a passiva resignação diante da fatalidade da vida. Analisando objetivamente as tendências predominantes, deduz-se que a razão humana, desassistida, é incapaz de encontrar respostas convincentes para as angústias existenciais. Tanto o gozo egoísta como a passiva resignação debocham da inteligência humana. O ser humano anela viver, e viver bem!

A transitoriedade da existência humana, quando bem compreendida, não desestimula a vontade de viver. Nem aprova o desfrute narcisista de impulsivos prazeres. Ao contrário, inspira valorizar sabiamente todas as oportunidades que as circunstâncias oferecem. A motivação maior emerge da certeza que a vida não termina com a morte. A fronteira limite da existência humana não é a morte.

A morte afronta o anseio humano de querer sempre viver, mais e melhor. Intimamente, cada ser humano intui que existe para não morrer. O fim da linha é a eternidade. A fé cristã ampara esta intuição ao professar a fé na ressurreição e na vida eterna. Na bela comparação do místico gramático, a morte não é o ponto final, é a vírgula. O ponto final é o ingresso na morada eterna. Pela fé, acredita-se que o destino de cada ser humano é um dia partilhar da glória eterna. Esta convicção inspira valorizar sabiamente cada situação, dando-lhe dimensão transcendental.

Cada gesto solidário anuncia e apressa a beatitude eterna. Este é sentido da suplica do salmista quando roga compreensão com a brevidade da vida.

Que o número vinte e quatro, da camisa de Bryant, se transforma em inspiração para que se compenetre da brevidade da vida e para transformar cada situação em ocasião para fazer o bem. A pujança de uma vida não se mede pela quantidade de dias, mas pela intensidade do legado humanitário nela impresso!

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