Mais e melhor, artigo do padre Charles Borg

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Recomenda-se verificar, periodicamente, as calhas! Em especial, quando o verão se aproxima e com ele o período de chuvas. Descuidar de calhas, em época de chuvas, pode provocar consideráveis danos ao patrimônio. Quem já passou pela infeliz experiência, confirma. A analogia da limpeza de calhas aplica-se para, praticamente, todas as áreas de vida. Saudável é, periodicamente, tirar um tempo e aplicar-se em uma detida análise da situação pessoal, familiar, financeira, empresarial. A probabilidade de encontrar lacunas e estorvos com potencial para provocar consideráveis danos é real. Limpezas periódicas são sempre recomendáveis.
A orientação vale igualmente para a vida espiritual. Revisões periódicas da jornada espiritual servem para detectar atalhos e negligências acumuladas na caminhada, sinalizando a necessidade de realizar pontuais correções. A Quaresma representa tempo oportuno para revisão e retomada do plano original da jornada. Por mais aplicada que a pessoa seja, é inevitável que falhas apareçam, que rotinas se instalem, empanando o brilho da original identidade batismal. O batizado é essencialmente vocacionado a aderir a Cristo e dar testemunho da sua opção.
O tempo litúrgico da Quaresma oferece ao cristão espaço de retiro em vista, primordialmente, da renovação da sua adesão a Cristo. A Quaresma não é fim em si. Visa preparar o cristão a celebrar a Páscoa do Senhor. Tem por objetivo encaminhar o fiel a ressuscitar com Cristo, a celebrar sua própria Páscoa, vencendo a mediocridade e dissipando as sombras do desânimo. A celebração litúrgica da Páscoa estimula o fiel a ressuscitar com Cristo para a vida sempre nova do evangelho. É a razão primeira porque se insere a renovação das promessas batismais na noite de Páscoa: configurado a Cristo ressuscitado, o fiel renuncia às maldades do pecado e abraça decidido o caminho da caridade universal!
Certifica-se que na Páscoa acontece consistente renovação da identidade batismal pelo impacto que a renovada condição do fiel provoca nos ambientes que frequenta. O discipulado não é vocação intimista. Envolve, ao contrário, desdobramentos coletivos. Autêntico discipulado é socialmente transformador. A ressurreição de Jesus não afeta somente a pessoa do Redentor. Produz salutar impacto na vida dos discípulos a ponto deles alterarem seus paradigmas.
A dimensão eterna da vida, confirmada pela ressurreição do Senhor Jesus, imprime nos batizados novos valores que transcendem o individual e os induz a ajustar a dimensão de seus horizontes. O discípulo é naturalmente transformador de ambientes, a moda do sal que tempera alimentos. A caridade, afinal, é essencialmente altruísta! Este formidável potencial marca diretamente a história da humanidade. Graças à fé no mistério da salvação, os cristãos, por onde passam, deixam rastros eloquentes de iniciativas humanitárias, redentoras e restauradoras. Ao colocar o batizado no radar da celebração da ressurreição do Senhor Jesus, o ciclo da Quaresma o desperta para renovar sua incondicional adesão ao Cristo. E, como natural consequência, a confirmar sua fé na supremacia do amor e na permanente vitalidade da caridade.
Quaresma é rico tempo de revisão e oportuno ciclo de renovação da identidade batismal, recomendável tanto quanto a vistoria de calhas. Encarado como imposição e restrito a popular tradição, o ciclo quaresmal esgota-se em folclóricos sacrifícios e inócuas renúncias, que servem apenas para anestesiar consciências e proporcionar ambígua sensação de piedade. Assumida em sua dimensão litúrgica e mística, a Quaresma encoraja o batizado a operar diligente avaliação da sua condição de batizado, visando tornar-se mais e melhor discípulo de Jesus Cristo!
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