Comunicador não tem dono! Tem pauta! Sua pauta é a verdade, a verdade dos fatos! Sublime proposta, sem dúvida, exigente, todavia, e de relevante responsabilidade. Conhecer é um dos anseios mais profundos da alma humana. O ser humano progride e amadurece a medida que amplia seus conhecimentos. E as depura. Depende, para tanto, de fontes que alimentam sua capacidade cognitiva. Na correta suposição que todo ser humano é naturalmente um comunicador, infere-se a exigência moral de um compromisso universal com a verdade.
Emerge a proverbial questão levantada pelo governador Pilatos em seu interrogatório do nazareno: o que é a verdade? O dramático silêncio de Jesus Cristo naquele impactante momento é contundente resposta: a verdade estava em pessoa na presença do governador. Acontece que o governador, envolvido por díspares referências, encontrava-se incapaz de enxergar o óbvio. Emana o grande desafio para cada comunicador consciente e responsável: a verdade como pauta inegociável.
Os fatos estão sempre sujeitos a tendenciosas leituras. Comunicador algum é neutro! Seu compromisso moral, portanto, é vigiar para que preferências pessoais não alterem a “verdade factual”. Do responsável comunicador exige-se constante empenho para confrontar suas fontes de modo a oferecer a seus destinatários retrato mais fiel da realidade, habilitando-os a formar conceitos consistentes e construtivos. Este imperativo moral de filtrar informações, de abandonar o conforto do escritório e “gastar as solas do sapato”, tanto no sentido literal como figurado, torna-se especialmente urgente em tempos atuais diante das inúmeras fontes de informação acessíveis.
O formidável avanço tecnológico, ao mesmo tempo em que facilita sobremaneira a comunicação em tempo real, possui a terrível capacidade de semear desorientações e gerar conflitos. Reconhece-se a existência de redes de desinformação, atuando em diversos campos da vida, cuja intenção é confundir as pessoas, impondo ideologias e gerando sectarismos. Subsidiados por ingentes recursos financeiros, esses grupos invadem plataformas digitais semeando meias verdades, quando não, mentiras ou fatos adulterados e falas editadas. Falam muito! Falam alto, mas nada dizem que não esteja a serviço de projetos hegemônicos no campo político, comercial, e social. Reclama-se da falta de criatividade por parte de alguns comunicadores, da ausência da paixão pela objetividade dos fatos, contra essas articuladas investidas de agências de desinformação.
Alastra-se a insípida e cômoda atitude de “cola e copia” sem o devido brio de checagem como também sem a inspiração para encarnar na local realidade fatos e notícias. A excelência da comunicação repousa naquilo que se vê, naquilo que se toca, naquilo que se digere, enfim, dos acontecimentos palpitantes do cotidiano! É a comunicação construtiva!
“Gastar a sola do sapato”, jargão entre editores zelosos por informações oriundas das ruas, deve ser tarefa igualmente para os que acessam as redes sociais. Se entre redatores percebe-se a cômoda prática do “copiar e colar”, entre os usuários transparece a preguiça de não checar informações, acompanhada da cômoda postura de aceitar o que se recebe e compartilha-lo, sem a preliminar e urgente necessidade de confrontar com confiáveis e diversificados fontes de informação. Urge criar consciência crítica tanto para não se tornar refém de manipuladores como também para não se transformar, involuntariamente, em propagador de nocivas inverdades!
Que se abrace, neste dia dedicado às comunicações, a provocação lançada pelo Papa Francisco a envolver agentes e usuários das várias plataformas de comunicação: gastar a sola do sapato com o objetivo ético de divulgar verdades, sem versões! Não é preciso falar muito. Urge apenas comunicar para edificar! Informar, sem patrulhar! Acessar e filtrar! Verdade, inegociável pauta!