Casa é feita de tijolos. Uma hora as obras terminam. Lar se constrói com ternura. Lares estão sempre em construção. A casa possui localização fixa e arcabouço sólido. O lar está essencialmente em constante evolução, é dinâmico. É expansivo. Nem está preso à endereço. Casas são impessoais. Lares são feitos de gente, com nomes e histórias. Com emoções, sorrisos e lágrimas. Troca-se de casa. Lares são insubstituíveis. Casas ruem. Lares raramente se desfazem. A diferença entre casa e lar está na “argamassa”. Na construção da casa, a argamassa é de composição rígida, mistura sujeita à cálculos.
Na edificação do lar, a “argamassa” é o afeto, elemento invisível, mas sensível, cuja consistência progressiva repousa no grau da gratuidade. A ‘química’ do lar nunca se esgota. Ao contrário, avança criativa, reforçando e perpetuando vínculos que, resilientes, resistem a abalos. Nem mesmo a distância física consegue afrouxar o laço que mantem os membros em sintonia entre si. Fronteiras não reprimem a espontaneidade das confidências.
Tampouco afetam a tenra intimidade da cumplicidade. Lar é vínculo indelével. Casa é uma propriedade, que se compra ou se vende de acordo com interesses e circunstâncias. Lares nascem e evoluem, alimentados por generoso afeto, criando suas próprias defesas contra levianas agressões. Na realidade, o conceito que se faz do casamento prioriza a decoração de uma casa ou a formação de um lar!
A sociedade admite, hoje, uma pluralidade de conceitos sobre casamento. Emerge, consequentemente, diversidade de abordagens sobre a realidade família. Líquido passou a ser o conceito família, ajustável a doutrinas e interesses. Fala-se muito dos direitos de uns e de outros, sem que, no entanto se avaliem os requisitos básicos para assegurar o mínimo de estabilidade nas diversas formas de convívio. Sobram ordenamentos legais, necessários, sem dúvida, mas que em nada contribuem para garantir uniões estáveis e felizes. Emerge indigesta constatação: enquanto se ampliam códigos de direitos individuais e coletivos, esfarelam-se, com assustadora frequência, casamentos e uniões. Completo e trágico descompasso!
Muitas são as moradas, escassos os lares! Assinam-se contratos que garantem direitos e explicitam deveres, mas incapazes de criar vínculos! Falta educação para o afeto! Atrações são espontâneas e impulsivas, não suficientes, contudo, para gerar verdadeiro amor! Esse aflora com naturalidade, mas igual tenra planta necessita de cuidados para crescer robusto e não murchar! Pois sim, genuínos amores também podem vir a murchar se der espaço a negligências e frivolidades. O amor exige reciprocidade. Sua essência, contudo, repousa na doação livre e consentida em favor da pessoa amada. Esta opção demanda consciência, envolve renúncias. Como se tem pavor, hoje, de sofrimento, abdica-se do compromisso. Refugia-se em encontros passageiros e uniões superficiais, ralos por essência e afetivamente frustrantes.
Salvação existe, apesar do grave contexto caótico. A atual civilização precisa de freios e contrapesos para andar na velocidade certa e reencontrar o equilíbrio. A proposta cristã do matrimônio oferece preciosa e confiável referência. A presente mentalidade julga conservadora a tese que defende a urgência de uma sólida educação no amor. Amor e afeto são sentimentos que precisam estar em processo constante de estímulo e lapidação. Residências são necessárias, por obvio! Mais importante que residir, porém, é habitar. É o estilo de habitar que eleva casas em lares, espaços de aconchego! Que, afinal, santifica o matrimônio!
Abençoa, Senhor, as famílias! Amém!