Defende-se a família! Mas, a que tipo de família se refere, uma vez que se verifica, na atual cultura, a existência de diversos modelos de família! Em uma sociedade plural, todo tipo de família reclama o direito de existir e de ser reconhecido como tal. E está ficando cada vez mais evidente que argumentos de um lado e rebates de outro resolvem pouco, ao contrário, acirram mais a polarização, com evidente prejuízo para a sociedade em geral. Está claro que a sociedade reflete a saúde do núcleo familiar. Urge, portanto, redefinir conceitos e propósitos. Apelar para tradições e definições dogmáticas é perda de tempo.
Debates se multiplicam, sem alterar convicções. É hora de reconhecer, com humildade e sinceridade, que muitas contestações contra a forma tradicional de família surgem, paradoxalmente, do desgaste existencial da vivência tradicional do matrimônio. Muitos os matrimônios de fachada, muita hipocrisia entre casais de conveniência, muitas as dissimulações entre casais supostamente religiosos. Reconheça-se a indigesta verdade, a crítica feroz contra a forma tradicional do matrimônio reflete os cruéis maus tratos e os infames descasos entre casais “abençoados por Deus”! Estariam totalmente errados os jovens que detonam a forma tradicional de ser família, eles que são as vítimas mais machucadas? Jovem não compactua com faz de conta.
Recusa repetir a farsa. Protesta, a seu modo, contra os novos paladinos que enaltecem a moral familiar, sendo eles mesmos divorciados e separados várias vezes! A hipocrisia e o egoísmo destroem o casamento, contando, não raramente, com a cumplicidade da Igreja, em sentenças dúbias de nulidade matrimonial. Ironicamente, o jeito de muitos viverem o matrimônio é que está detonado o conceito tradicional de família! Não seria tão absurdo afirmar que essas novas formas de convívio, algumas francamente bizarras, representam, na realidade, o reprimido anseio por um convívio básico, decente, estável e duradouro! Em família cresce e amadurece o ser humano. Saudável, a família é paraíso. Em conflito, é inferno!
O caminho não está na retórica. Dogmas e cânones não resgatam a dignidade do matrimônio! A revitalização da família se dá a partir do próprio núcleo familiar. É nos casais que se encontra a semente da reinvenção da família! São as pessoas que precisam ser reeducadas! Todo matrimônio nasce a partir de uma promessa! A medida que o casal se mantem fiel à promessa original, apropriadamente definida como aliança, o convívio afetivo amadurece na mesma proporção em que se purifica. Promessa embute sacrifício. Aliança envolve renúncias! Absoluta e incondicional fidelidade á promessa original constitui o núcleo duro para um convívio estável e duradouro.
Parceiro e feliz. Não isento de turbulências e sobressaltos, apenas resistente e resiliente. Emerge a grave responsabilidade das instituições religiosas, especialmente as cristãs. A preocupação primeira não pode se esgotar em abençoar casamentos. Tarefa primordial é educar para o convívio, converter para o amor verdadeiro, mormente em uma sociedade que demonstra receio diante de compromissos, abomina sacrifícios e mostra-se inquieta e enfadada diante responsabilidades continuas! Antes de debater e censurar formas alternativas de convívio, a primordial tarefa é resgatar a beleza original do amor doação! São as pessoas que precisam ser reeducadas!
A primordial fórmula de bênção matrimonial – o que Deus uniu homem algum separa – permanece válida e referencial! Alterando o substantivo Deus por amor – afinal, Deus é amor-doação – e o substantivo homem por egoísmo, emerge o propósito programático original: o que o amor une, egoísmo algum atreve separar! Educadora intuição manifesta a Igreja ao inserir a memoria da Sagrada Família entre os festejos natalinos. Apesar de seriíssimos contratempos, José e Maria, educados na escola bíblica do amor, aprenderam a respeitar-se mutuamente, a manter-se fiéis à sua original promessa. Cúmplices e confidentes geram o Salvador, esperança de um mundo melhor.