Juan de Yepes nasceu em Ávila, Espanha, em 1542. Com a morte do pai, a mãe mudou para Medina, onde Juan trabalhava num hospital de dia e estudava gramática a noite. Aos 21 anos entrou na Ordem Carmelita, adotando o nome de João da Cruz, e logo demonstrou vocação para vida austera e penitencial. Foi estudar teologia na Universidade de Salamanca, e nos tempos livres visitava doentes nos hospitais, servindo-os como enfermeiro. Sacerdote aos 25 anos, e insatisfeito com a (in)disciplina nos mosteiros carmelitas, cogitou fazer-se trapista.
Conheceu então Santa Teresa de Ávila, que o convenceu a, com ela, reformar o Carmelo. Esta reforma implicava na oposição dos muitos que se sentiam desconfortáveis com uma vida mais fiel ao espírito original da Ordem, e por isso ele sofreu perseguições e calúnias, chegando a ficar encarcerado nove meses na prisão de um dos conventos que se opunham à reforma. Conseguiu fugir e continuar a sua obra.
Pedia insistentemente a Deus três coisas: primeiro, dar-lhe forças para trabalhar e sofrer muito; segundo, não deixá-lo sair deste mundo como superior de uma Ordem ou comunidade; e terceiro, que o deixasse morrer desprezado e humilhado pelos homens, e em tudo foi atendido.
Através das penitências e sofrimentos, João chegou a um altíssimo grau de santidade, que incluiu êxtases e visões. Profundamente contemplativo, deixou obras essenciais de temas ascéticos e místicos, de valor perene e que lhe conferiram o título de Doutor da Igreja. Mas sua poesia lírica é também uma das mais expressivas da literatura espanhola.
Faleceu após penosa doença, em 14 de dezembro de 1591, com apenas 49 anos de idade, na Espanha, após novas incompreensões e calúnias – foi exonerado de todos os cargos na comunidade, passando os seus últimos meses no abandono e na solidão.
Colaboração: José Duarte de Barros Filho
Reflexão:
São João da Cruz é uma daquelas raras vocações que, pela via voluntária de enormes sofrimentos, procura identificar-se com Cristo na Sua dolorosa Paixão, e por consequência atinge igualmente raros níveis de santidade. Para a maior parte dos fiéis, Deus pede apenas a boa vontade de aceitar os sofrimentos mais correntes desta vida, que sim incluem também doenças, injustiças, dificuldades, mas em graus muito mais brandos. E, na verdade, mesmo isso já nos é muito difícil. Sejamos humildes na compreensão da nossa pequenez, para não ofendermos a Deus pretendendo ser mais do que somos, e ao mesmo tempo agradeçamos pela Sua proteção e Providência, que nunca permitem sejamos expostos ao que não podemos suportar; e esta humildade, se pura e sincera, nos alcançará santidade tão grande como a dos maiores canonizados, pois não é propriamente no peso específico da nossa cruz que está o valor para Deus, mas sim no amor com que o carregamos.
Oração:
Ó Pai de misericórdia, que conheceis as nossas limitações e desejais o nosso bem, concedei-nos, por intercessão de São João da Cruz, a coragem e perseverança de alegremente aceitar as dificuldades que nos permitis viver, como caminho certo de salvação. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, e Santa Maria, Vossa e nossa Mãe. Amém.