Imponente e sóbrio é o monastério da Santa Cruz! Conta a tradição que uma capela foi construída sob as ordens da Imperatriz Helena, mãe do Imperador Constantino, em agradecimento por ter sido salva de um naufrágio. Por volta do ano 330 a.c., a Imperatriz regressava a Roma após ter realizado a primeira peregrinação cristã aos lugares santos na Palestina. Nesta peregrinação, a Imperatriz teria desenterrado a verdadeira cruz de Cristo, junto com os cravos supostamente usados para crucificar o Senhor. Devota, decidiu levar consigo as relíquias. Em sua viagem de regresso, sua embarcação enfrentou violenta tempestade. Sempre de acordo com a oral tradição, a frota foi milagrosamente salva, graças às sagradas relíquias, ao encontrar abrigo em um dos muitos portos naturais da ilha de Chipre.
Em reconhecimento a este favor divino, a mãe do Imperador Constantino decidiu erigir uma igreja que lembrasse a intervenção divina. Informada sobre a existência de um templo pagão erigido num monte conhecido como Olympos, a imperatriz mandou demolir a profana construção e edificou no lugar sua igreja, deixando como dádiva um pedaço da cruz de nosso Senhor e um dos cravos da crucifixão! Rápido o local se transformou num preferido destino de devoção, particularmente para os peregrinos que viajavam para visitar a Palestina. A ilha de Chipre representava, na época, estratégico entreposto para embarcações que navegavam pelo mediterrâneo.
Com o objetivo de preservar as sagradas relíquias e alimentar a devoção popular, a capela foi entregue a monges ortodoxos que construíram um monastério onde pudessem se abrigar e, simultaneamente, celebrar e catequizar os romeiros! Conhecida pela rica tradição monástica, a ilha de Chipre abriga inúmeros mosteiros, sendo o mais antigo, o mais venerado e o mais imponente, o mosteiro da Santa Cruz!
O cume do monte Olympos, hoje conhecido como STRAVROVOUNI, onde se encontra o monastério da Santa Cruz, fica a 700m acima do nível do mar. Imponente e austero, domina toda região! O acesso, atualmente facilitado por via asfáltica, representava exigente esforço penitencial, abraçado como indispensável purificação para quem desejasse pisar na Terra Santa. Isolado, no topo da montanha, o mosteiro oferece ideal ambiente para contemplação e oração. O convento é um convite explícito para abrir a alma ao transcendente e compenetrar-se da imensidão divina. O silêncio é complemento natural, reverente obsequio à harmoniosa sinfonia do agreste conjunto!
As inúmeras, e não raramente sangrentas, disputas políticas como também sucessivos conflitos religiosos ligados às guerras das cruzadas, marcaram presença no governo do mosteiro. No período das cruzadas, os monges ortodoxos foram expulsos e o regime do mosteiro passou a ser pautado pela espiritualidade beneditina. Após a invasão otomana, que arrasou a ilha, os monges ortodoxos retomaram a disciplina do mosteiro. Campanhas beneficentes, lideradas por ortodoxos russos, ajudaram a reformar o edifício, dando-lhe a apresentação que atualmente ostenta.
A vida no mosteiro, hoje com 26 monges, se divide entre atividades religiosas – oração e meditação – e ocupações culturais e agrícolas, visando a manutenção do prédio e de seus internos. Destaca-se a produção de ícones, habilidade artística tradicional entre os ortodoxos, que podem ser apreciados na modesta loja anexa ao mosteiro. O acesso ao interior do prédio, reservado somente a homens, continua rigoroso e exigente, com o explícito propósito de preservar o ambiente de silêncio e recolhimento, próprios à vida monástica. Conhecer o mosteiro da Santa Cruz em STRAVROVOUNI é preciosa oportunidade de mergulhar no clima da mística monástica. Representa, também, singular ocasião de experenciar a inefável presença divina no murmúrio da brisa suave!
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