Tom, artigo do padre Charles Borg

Trump escapou, por pouco! A opinião de influentes jornais, americanos especialmente, qualifica o atentado como “inevitável” e “previsível” em um país onde a política vem se caracterizando por discursos de ódio e de intolerância. O editorial do influente jornal New York Post comentou que o que transparece a partir deste atentado é o retrato de uma nação feita de gente que se odeia e que encontra satisfação em se destruir. O preciso comentário, é triste afirmar, não se restringe somente à política nos Estados Unidos. Aplica-se a vários outros países, inclusive o nosso. Não é de hoje que a política, em nosso país, é marcada e manchada por infames atentados contra a vida de políticos. Urge entender que a animosidade não se limita somente a agressões bárbaras. Manifesta-se igualmente, em ataques contra honra, em levantamento de calúnias, na disseminação de inverdades que atingem a moral de pessoas públicas. Marcada pela violência, a política facilmente se transforma em aventura imprevisível. Emerge a impressão de que para fazer política é imperioso destruir o outro. Curioso e intrigante como a sociedade se resigna estoicamente, quando não aplaude, hostilidades, traições e quebras de lealdade. Ao que parece, na política, ética e moral não tem vez.
E isto em países que se ufanam de suas raízes cristãs. Justamente por conta das tradições cristãs que se é obrigado a admitir que a retórica que condena a violência não passa de pura demagogia. Civilizado é o povo que faz da honestidade, da lealdade, da justiça e da solidariedade seus inegociáveis valores de referência de conduta. Nos bastidores da política, particularmente em época de eleições, esses valores ficam convenientemente postos de lado. Política, em época de eleições em particular, se transforma em conflito aberto de sobrevivência. Quando a verdade deixa de ser a referência incondicional, informações são manipuladas, declarações são intencionalmente editadas e distorcidas. Quem mais tem poder acomoda habilmente os fatos segundo seus interesses! Decência e correção perdem terminantemente a vez, cedendo lugar para hipocrisias e demagogias. Solenes compromissos são maquiavelicamente substituídos por espúrios conchavos! Alianças antigas são desfeitas por conta da suja luta de ambições e vantagens! Nada estranho, afinal, que o concorrente seja visto e tratado como inimigo a ser abatido a qualquer custo. Lamentavelmente, o viés hostil e agressivo que marca a lida política começa a infectar a conduta dos cidadãos. A sociedade parece aceitar o jogo. E o cidadão comum se transforma, não se sabe se ingenuamente ou consensualmente, em protagonista neste embate irracional. Basta conferir as constantes postagens na mídia eletrônica carregadas de calúnias e repletas de ataques à moral de destacadas figuras políticas. Muitos ainda não acordaram e não percebem a gravidade do mal que esta animosidade declarada introduz no comportamento social. Considera-se natural reagir com raiva diante da mera menção do nome do adversário. Reputa-se normal responder com impropérios ou mesmo cortar relações com quem defende posições contrárias. Neste caldo de ódios e raivas, atirar contra adversários é previsível desfecho! É perfeitamente presumível que este caldo de iras e antipatias estimule mentes desequilibradas!
Urgente se faz despertar diante deste difuso viés de ódio que vem se infiltrando no cotidiano das pessoas. Corriqueiras estão ficando as hostilidades, algumas excessivamente violentas, inclusive no convívio doméstico. Urge repudiar toda forma de radicalismo. Urge sustar a nefasta polarização. Urge reduzir drasticamente o vocabulário do ódio! Urge, em suma, mudar de tom! Contra o letal ódio, a leal civilidade. Contra o estúpido discurso radical, a respeitosa tolerância!

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