Tudo foi muito estranho! O nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo deu-se totalmente em contexto fora do padrão da normalidade! O Filho de Deus foi gerado no ventre da Virgem Maria com a explícita missão de salvar a humanidade. O Menino gerado pelo poder do Espírito Santo nasceria para ocupar definitivamente o trono de seu antecessor, Davi! Seu reinado não terá fim! Legítimo é imaginar o impacto dessas promessas na mente piedosa e no sentimento religioso de Maria. Especialmente quando se leva em conta toda expectativa político-nacionalista que enchia o brio de todo israelita, em especial diante da certeza da proximidade da chegada do Messias prometido. Um libertador de tamanha envergadura tinha que ter um nascimento insigne a confirmar sua divina missão.
Eis, contudo, que prestes a se completarem os dias do nascimento do libertador, José e Maria são obrigados, em obediência à imposição de um regime invasor, a abandonar a aldeia de Nazaré e ir recensear-se na real cidade de Belém. E é ali, na cidade do pão, que o Filho de Deus, o herdeiro do trono da Davi, nasce em espaço marginal porque não havia lugar disponível na cidade! A piedade cristã reveste a gruta de Belém em molduras de romântica ternura, ornada com suaves luzes de sentimental emoção. A realidade, todavia, foi certamente bem mais dramática e angustiante. Que o digam as mamães obrigadas a dar à luz, desassistidas e distantes do aconchego de seus lares. Legítimo, igualmente, imaginar a perplexidade do humilde casal diante do estranho enredo … como se explica que o menino gerado pela força do divino Espírito nascesse em condições tão humildes? Como se explica que o futuro ocupante do trono de Davi viesse ao mundo de maneira tão despojada? Verdade que Belém lembrava a origem humilde do rei Davi, mas não seria mais condizente seu ilustre sucessor nascer em ambientes mais nobres? Não seria mais convincente, o Santo gerado pela sombra do Altíssimo nascer nos sagrados recintos do Templo, a morada oficial de Deus? Quem acreditaria na realização das promessas bíblicas ao conferir que o sinal dado para identificar o Salvador que acabava de nascer era contemplar um recém-nascido envolto em panos e deitado em uma manjedoura? Que mistério é esse?
Particularmente estranha, igualmente, a iniciativa divina de escolher pastores como primeiros destinatários desse alvissareiro acontecimento! Essa gente não gozava de boa reputação, constituía a classe dos invisíveis da sociedade da época. No entanto, é a eles que os anjos comunicam por primeiro a boa notícia da aurora da salvação! Mais admirável ainda, a prontidão e a alegria com que se dirigem ao local indicado para prestar homenagem ao recém-nascido. Contagia o descontraído desembaraço com que levam a boa notícia a seus conhecidos. Quem diria, pastores de duvidosa reputação são escolhidos como primeiros arautos da boa nova da salvação! Não haveria gente mais qualificada para uma tão nobre missão? Tudo, de fato, muito estranho! Que mistério é esse?
A logística de Deus surpreende e provoca! A inusitada sequência do roteiro disposto pelo Altíssimo em torno do nascimento carnal do Filho Eterno induz Maria e José à reverente contemplação. É preciso deixar-se envolver pelos propósitos divinos! É preciso contemplar para entender! Sem detida meditação o profano se sobrepõe ao sagrado, o folclore abafa o dogma. Emerge o Evangelho do Reino: a regeneração do Homem e da Humanidade passa pelo processo do despojamento e pelo vigor da simplicidade! A obra da salvação descarta a ruidosa exposição para privilegiar a modesta presença. Dispensa a empáfia de celebridades e poderosos e privilegia a simplicidade dos humildes. O que o mundo desqualifica, Deus sublima! O mistério de Belém argui, desperta, instiga!
FELIZ NATAL!
Deixe um comentário