Padre Charles Borg: oração de pai

Homem justo é José! Com esta prenhe e densa qualificação, o evangelista Mateus descreve a pessoa de José, o discreto carpinteiro de Nazaré, confirmado como esposo de Maria e designado pai adotivo de Jesus. Embora não integrasse seu projeto original de vida, José acolhe o plano de Deus, recebe Maria em sua casa e assume com coragem e dedicação a missão de pai legal do Filho de Deus. Qualifica-se José a amar e zelar por Jesus com um coração de pai!

O desvelo no cumprimento desta sublime tarefa fica evidente nas narrativas evangélicas. José marca presença em todas as etapas da infância de Jesus! Justamente o período quando a criança mais precisa da presença do pai! Está ao lado de Maria na viagem à Belém, na hora do parto do Filho de Deus, na apreensiva fuga para o Egito, livrando o Filho da fúria paranoica de Herodes, no cauteloso retorno à Nazaré, na orientação religiosa do menino, implícita nos registros das regulares visitas ao Templo em Jerusalém. A diligente dedicação de José no cuidado com o Menino Jesus emerge como pedagoga inspiração de paternidade responsável.

Repete-se com frequência que pai não é somente aquele que gera, mas, principalmente, aquele que cuida. Jesus não é filho biológico, mas José zela por ele com admirável esmero. Ciente da imensa responsabilidade de prover ao Filho divino de Maria, José se entrega, com presumível apreensão, ao cumprimento digno de suas paternas tarefas. Registram os evangelistas os frequentes sonhos de José, ocasiões quando capta a vontade divina. José sonha porque o cuidado com Jesus constitui assunto prioritário em sua agenda. Suplica orientações e a providência divina inspira o encaminhamento a ser seguido.

Pressupõe-se que algumas dessas orientações contrariavam as deliberações de José, mas entendendo tratar-se de inspirações divinas as cumpre com desvelo. Orientação preciosa para gestores e pais a postura de José. Preferência sempre deve ser dada a preceitos divinos. Em situações de incerteza, imperioso é orar! Pedir discernimento! Existe o perigo de confundir agendas cheias com ocupações salutares. Vida agitada nem sempre indica cumprimento coerente de dever. Ocupações há que são prazerosas, mas que são alheias aos deveres inerentes do estado ou do ofício. Como existem, igualmente, obrigações que não oferecem prazer nenhum, mas que são reconhecidas como essenciais ao ofício que se ocupa. Surgem desses descompassos algumas graves frustrações.

É comum distrair-se com tarefas secundárias ao ofício, em especial quando prazerosas e vantajosas, e negligenciar outras próprias e essenciais ao ofício. Encontram-se pais que se desdobram em variadas ocupações, benéficas supostamente, mas descuidam de outras tarefas mais caseiras, menos glamorosas, mas mais essenciais para a harmonia do lar. Legítima satisfação encontra quem realiza o que é próprio ao dever, o que integra o ofício. Ao se dedicar integralmente a essas tarefas inerentes ao próprio ofício, paulatinamente a elas se afeiçoa, passando a cumpri-las com amor. Limitar-se apenas a realizar o que é aprazível ou ao que é vantajoso leva a uma árida alienação. Educadores conscientes não se calam nem fingem ignorância! Filhos e subalternos admiram pais ou gestores ativos, mas aprendem e amadurecem mesmo é com quem se dedica conscientemente a cumprir com abnegação e alegria as tarefas inerentes ao ofício.

Ao dedicar este ano a exaltar a figura do justo José, o papa Francisco convoca o mundo a contemplar a vida e a ação deste ilustre, embora discreto, personagem, esposo de Maria, pai legal de seu divino Filho. José é, provavelmente, a figura mais reservada entre os principais personagens bíblicos! Afinal, não é preciso ser evidente para ser eminente! Pais, maridos e gestores muito têm a aprender com a simplicidade e o equilibrado sentido de justiça de José. Coração de pai se molda na oração, no discreto discernimento, temperado por um calibrado e afetuoso sentido do dever!

X