A melhor maneira de combater um falso testemunho é com a apologia de uma consistente exposição

*Padre Charles Borg

Jesus Cristo é manchete! Por conta de uma produção montada pela trupe de humoristas Porta dos Fundos e exibida pela Netflix, apresentando, entre outras leituras sarcásticas, um Jesus gay, multiplicaram-se nos vários canais de comunicação manifestações a favor ou contra a exibição da peça. O mais violento ato de contestação foi um atentado, usando coquetéis Molotov, contra a sede da produtora.

O atentado está sendo apurado pela polícia. Em meio a este tumulto de opiniões, varas variadas de justiça tanto no Rio com em São Paulo têm negado pedidos para remover a peça do site do streaming, alegando, corretamente, que tal procedimento resultaria em censura, procedimento expressamente proibido pela Constituição. Gente mais equilibrada tem sugerido que quem não aprova a exibição, simplesmente deixe de a assistir.

É sabido que os patrocinadores de sites ou de canais de TV dependem do volume de acessos a seus produtos. Apresentações, portanto, que inibem acesso às plataformas midiáticas costumam sofrer severos cortes de patrocínio, inviabilizando futuras produções. De qualquer maneira, esta particular exibição levanta, oportunamente, várias bandeiras.

A primeira foca, justamente, a censura. Vive-se, hoje, em uma sociedade plural, em que cada pessoa ou grupo tem direito de cultivar e exprimir opiniões, desde que não insultem ou agridam sentimentos alheios. Sempre existe o direito de questionar abordagens e desqualificar manifestações abrigadas sob o poroso guarda-chuva de arte. Impedir que essas obras sejam exibidas ultrapassa o limite da liberdade. Afinal, a liberdade de um termina onde começa a liberdade do outro. A postura mais coerente nesse episódio, mesmo do ponto de vista religioso, seria deixar de assistir à peça, caso o cidadão se sinta agredido em seus sentimentos religiosos. O fato é que o barulho contestador e as críticas agressivas têm contribuído, paradoxalmente, a promover a peça. Catalogar a produção como ficção, e de mau gosto, teria sido uma estratégia mais inteligente e eficaz.

Fator outro, e este atrelado bem mais à dimensão religiosa, evoca a confissão do apóstolo Paulo ao se afirmar feliz constatando que o nome de Jesus Cristo é anunciado mesmo por gente má intencionada. A postura mais sagaz diante de uma apresentação tendenciosa é a exposição da autêntica versão. O mais convincente argumento contra uma mentira é a apresentação da verdade.

A melhor maneira de combater um falso testemunho é com a apologia de uma consistente exposição. Quem conhece, de verdade, a identidade do Senhor Jesus, lamenta, claro, a grosseira caricatura, mas não enxerga nela nenhuma real ameaça contra sua memória. Em vida Jesus foi ridicularizado e perseguido. Sua memória, contudo, permanece muito viva! E reverenciada! Impõe-se, todavia, indigesta reflexão: a omissão de dar verdadeiro testemunho sobre a identidade de Jesus Cristo abre espaço para abusados satirizar sua memória.

Ousa-se distorcer a imagem de Jesus Cristo porque quem tem a obrigação de testemunhá-lo com atitudes e obras encolhe-se em silêncio. Exposições ofensivas contra religião e contra ícones religiosos não se combatem com métodos truculentos, incompatíveis com os ensinamentos evangélicos, mas com a apresentação, serena e decidida, da objetiva verdade.

Quando os discípulos de Jesus assumirem, com convicção, a convocação para que dessem testemunho dele, pouca credibilidade sobra para levianos detratores. É pela luz que se vence as sombras!

*Padre Charles Borg é vigário-geral da Diocese de Araçatuba

1 Comentário

  • Me recordo do filme ” A última tentação de Cristo ” final dos anos 80. A Igreja na época simplesmente pediu para que os fiéis não assistissem e nem ficassem comentando. O filme foi um fracasso de bilheteria, teve prejuízo. Foi banido pela crítica, pois foi descoberto que a intenção da produção do filme, foi causar polêmica e nisto causar interesse no povo e não a arte por si mesma.

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