Banquete, artigo do padre Charles Borg

Maria colocou Jesus na manjedoura! Nesta singela e comovente descrição, o evangelista Lucas provoca seus leitores a uma profunda e iluminadora reflexão acerca do mistério da Encarnação. Sabe-se que a manjedoura servia de cocho para alimentar animais. Emerge espontânea e iluminadora catequese: Jesus nasce para ser alimento para o mundo! EU SOU O PÃO DE VIDA! A celebração do Natal de nosso Senhor Jesus Cristo não se resume a recordar o que se deu em Belém há dois mil anos. A liturgia não é museu! A liturgia interpela o fiel. O mergulha no mistério. O provoca a interagir com o dogma. Nesta última semana que precede a celebração da sublime iniciativa da Encarnação, o fiel é convidado a contemplar o menino Jesus deitado na manjedoura, e questionar a si mesmo ate que ponto e em que sentido, Jesus alimenta sua vida!
O evangelista João, em seu perspicaz e penetrante registro do episódio da multiplicação dos pães (cap.6), oferece aos leitores compreensiva catequese. De uma forma magistral, o evangelista induz seus leitores a enxergarem no conjunto do relato o distinto paralelo entre o mistério da Encarnação e a invocação de Jesus como pão da vida. A compaixão diante da básica necessidade de alimento emoldura todo o evento. Observa-se como Jesus não somente toma a iniciativa, como também é o único responsável a providenciar e a distribuir o pão para a multidão até a saciedade. Diante da entusiasta reação da população, Jesus recusa ambições políticas e ainda chama a atenção quanto à oportunista ambiguidade de transformá-lo em provedor de imediatas necessidades: procurem pelo pão que dura até a vida eterna e que somente o Filho do Homem pode lhes oferecer!
Ao ser questionado onde e como se pode encontrar este pão vivificante, Jesus se apresenta como o Pão da Verdade. A Verdade que emana da vontade do Pai. Jesus é a encarnação desta Verdade. Ele é a encarnação do sublime projeto divino da universal salvação. Deus não quer que ninguém se perca. Quem acredita nesta Verdade, que o próprio Jesus encarna, nunca mais terá fome, nunca mais terá sede! Ousada afirmação do Mestre Jesus, oportuníssima ainda nos tempos hodiernos, marcados por tantas incertezas, medos e mentiras. Jesus alimenta a inteligência e ilumina o entendimento acerca do fundamental sentido da vida. Quem nele crer sabe por que vive e entende que há propósito na existência. Cristo, então, avança na catequese, sobe um degrau, e se apresenta como pão a ser consumido … quem come minha carne e bebe meu sangue alcança a vida eterna, pois sou verdadeira comida e verdadeira bebida.
Na condição de pão que desce do céu, Cristo Jesus alimenta o entendimento como também sustenta a vida espiritual do crente! Estranha sentença para as pessoas de todos os tempos, inclusive para os primeiros destinatários que, sentindo-se enojados, distanciam-se do Mestre. Ele, contudo, não contemporiza. Ao contrário, na véspera de sua morte, na companhia de seus próximos discípulos, concretiza o grande milagre: tomam e comam … é meu corpo! Tomam e bebam, é meu sangue! Ele se faz alimento, literalmente! E ainda ordena: façam isto em minha memória! Perpetuem este banquete!
A imagem do Menino Jesus deitado na manjedoura não representa tanto singelo enternecimento. Evoca, sim, o profundo e proposital sentido do mistério da Encarnação. Jesus é o alimento da vida eterna para uma humanidade habitualmente faminta! Cristo, somente Ele, sacia a insistente fome de viver! Singela e silenciosamente, sua imagem deitado na manjedoura, nascido em Belém – casa de pão – continua convidando a todos que nele mirarem: venham ao banquete … quem crê em mim … quem come minha carne, nunca mais terá fome. Nunca mais terá sede!

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