Sucedem-se absurdos! Multiplicam-se tragédias provocadas por seres humanos que, parece, estão ficando cada vez mais insanos. Espalha-se a cultura do ódio pelo ódio. Não se encontram justificativas para tanta irracionalidade. Agoniada, a sociedade contempla desorientada a mistura de valores; o que é bom ficou descartável e o que mal é exaltado como suma conquista! Muitos choram. Vergam-se, inconformados, sob o peso de um doloroso sofrimento, prostrados pela sensação de extrema fragilidade diante de tamanha monstruosidade. Um lamento emerge das entranhas da alma humana clamando por socorro. De cura e libertação necessita com urgência a alma humana. Quer o fim desse nefasto pesadelo!
O começo do fim é aprender a afligir-se diante de tanto drama humano. Jesus Cristo, o divino mais humano, ao contemplar a desordem e a subsequente prostração à qual ficou submetido o povo eleito, provocadas pela manipulação oportunista das lideranças religiosas do seu tempo, chorou. Dominus flevit! Chorou e compadeceu-se! Chorou e tomou posição! Ousou declarar bem-aventurados os que se afligem, como ele, diante da dor alheia. Afligir-se é sofrer junto. É sentir na própria pele a dor alheia. A aflição desdobra-se naturalmente em misericórdia, a virtude mestra do cristão assumido, o atributo mais nobre do ser humano. Quem sofre junto não se contenta apenas em colocar-se ao lado do sofredor, em especial quando as feridas são consequência de humana injustiça, intencionalmente infligidas por mentes perturbadas. Inexplicável é a maldade humana, capaz de provocar tão grandes sofrimentos. Abismo é o coração humano! Dilacerante é a dor quando gerada por distúrbios mentais ou desequilíbrios psíquicos. Em situações de tamanha angústia, gestos paliativos, mensagens piegas, declarações pseudomísticas prostram mais que consolam. Em situações de dor extrema o silêncio solidário conforta mais que desconexos discursos. A genuína aflição desdobra-se em oferecer cura. E se apresenta igualmente pronta a insurgir-se e a tomar posição diante de injustiças e arbitrariedades. O sentimento de misericórdia recusa conformar-se com as perversas articulações que fomentam a violência, combate ideologias que alimentam discriminações e intolerâncias, denuncia o cinismo que corrompe valores. Emergem, forçosamente, indigestas indagações: a quem, afinal, interessa estimular tanta desumanidade? Quem leva vantagem com a insana morbidade que se deleita na cultura do ódio? A quem interessa o caos moral? A quem interessa espalhar o medo?
A numerosa comunidade de gente de bem anda compreensivelmente assustada. A hora é de olhar o inimigo de frente! Recolher-se é virar refém. Medo atrofia. O valioso remédio contra a fatalista resignação encontra-se, justamente, na evangélica aflição. Diante do sofrimento, Jesus chorou. E reagiu. Suas lágrimas induziam-no a tomar posição. Aproximou-se de gente sofrida. Curou com gestos simples. Consolou com atitudes genuinamente humanas. Denunciou a manipulação religiosa e enfrentou a arbitrariedade dos poderosos da época. Ao insistir na prática da misericórdia, Jesus conclama a agir. Reprova a cumplicidade da omissão. Censura o conformismo da passiva resignação e critica a frieza da indiferença. Perversidade se corrige com nobres gestos. Crueldade se enfrenta com tenaz bondade. Insensatez se cura com discernimento, equilíbrio e retidão. Ao prometer consolo para o aflito, o Senhor Jesus convence o cidadão do bem a crer e confiar que sentimentos humanitários são mais eficazes que a articulada maldade dos delinquentes.
É hora de despertar o brio da alma humana. A maldade não é invencível! A dor não é maldição crônica! A evangélica aflição constitui moral desfibrilador a despertar a alma humana para seu imenso potencial de semear a cultura do cuidado. De represar esse insano rancor! Árdua e demorada é a luta, mas a promessa é categórica: os aflitos serão consolados!
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