Dom Sergio em entrevista: “Nutro a esperança de que o mundo vai mudar depois dessa pandemia”

No Domingo de Páscoa (12/04), o bispo diocesano Dom Sergio Krzywy concedeu entrevista ao jornal Folha da Região de Araçatuba. No bate-papo divulgado na edição do impresso, Dom Sergio conta como manter a fé em meio às angústias em tempos de pandemia. Segundo ele, a situação frente ao Novo Coronavírus exige de cada um responsabilidades e compaixão.

Segundo o bispo, o sentimento necessário de solidariedade é inspirado dentro dos ensinamentos do Papa Francisco e ainda na proposta da Campanha da Fraternidade deste ano, onde a Igreja no Brasil reflete o tema “Fraternidade e Vida: dom e compromisso”.

Dom Sergio ainda conta como está a rotina pastoral e administrativa da Diocese, bem como compartilha a respeito das mudanças e sua rotina como bispo.

Confira na íntegra:

 

  • Em tempos de pandemia, como deve ser a atitude do cristão nesta Páscoa?

Antes de tudo, cada cristão deve manter-se no firme propósito de contribuir efetivamente para que, juntos, possamos superar esse momento difícil pelo qual passamos. É momento que requer corresponsabilidade. Como cristãos e cidadãos é nosso dever valorizar e cuidar da vida a exemplo de Jesus Cristo, nosso Bom Pastor.

 

  • A quaresma deste ano coincidiu com uma crise mundial de saúde pública. Fomos forçados a mudar nossos hábitos cotidianos. O que devemos aprender com este fenômeno?

 

Creio que o principal ensinamento que este fenômeno está nos proporcionando é a exigência de cuidar de nós e dos outros. Tal exigência – cuidar de nós e cuidar dos outros – torna-se também e necessariamente um aprendizado.  A realidade está nos mostrando que nossas vidas estão interligadas; dependemos uns dos outros. Numa linguagem teológica, não nos salvamos sozinhos, isolados uns dos outros, mas nos salvamos em comunhão, cuidando uns dos outros.

A realidade está nos mostrando que nossas vidas estão interligadas; dependemos uns dos outros. Numa linguagem teológica, não nos salvamos sozinhos, isolados uns dos outros, mas nos salvamos em comunhão, cuidando uns dos outros.

  • O senhor acredita que os fiéis sairão, ou deveriam receber este momento de renascimento, para também renascerem na solidariedade?

Ainda é muito cedo para fazer uma avaliação do que está a significar para cada um de nós uma pandemia como esta. Como ela age na mente e no coração de cada um de nós e quais mudanças vai provocar. Para nós católicos, a Campanha da Fraternidade deste ano se encaixa muito bem nesta Quaresma e, com certeza, com a pandemia, a imagem do Bom Samaritano que “viu, sentiu compaixão e cuidou do homem caído” (Lc 10,33-34) está iluminando nossas atitudes fraternas no cuidado com a vida, compreendida como dom e compromisso, expresso no tema da CF-2020. A pandemia intensificou nossa atenção para a vida dos irmãos em risco e faz aumentar as iniciativas de solidariedade. Neste sentido, a solidariedade renasce e vem de encontro ao ensinamento do Papa Francisco no início de seu pontificado ao nos convocar a vencer a “globalização da indiferença”.

 

  • Em particular, o senhor, como têm atravessado este momento inédito de afastamento social?

Continuo acompanhando a vida da Diocese, mas com a redução das atividades cotidianas de trabalho. Suspendemos os encontros diocesanos do Setor da Juventude, das Pastorais Sociais, da Formação Permanente do Clero e do processo de assembleias na avaliação da caminhada pastoral diocesana, além de outros encontros, reuniões e/ou celebrações de organismos diocesanos. Em casa, tenho aproveitado para viver e fortalecer minha comunhão com o Povo de Deus da Diocese através da oração, meditação e reflexão. Com redobrado interesse, tenho acompanhado as notícias de nosso País e do mundo.

  • Tem se sentido solitário?

A solidão que estamos vivendo é portadora de uma fecundidade especial. Estamos descobrindo que é necessária uma coesão geral em nossas ações. Nutro a esperança de que o mundo vai mudar (já está mudando) depois dessa pandemia.

 

  • Como o cristão deve aproveitar este momento de reclusão social para se fortalecer na fé?

Primeiro, o cristão deve assegurar que tudo concorra para uma boa convivência familiar entre os membros da família. Depois, aproveitar a preciosa oportunidade de que o momento oferece para cultivar uma Liturgia Doméstica. Celebrar a fé em família, alimentar a esperança e crescer na comunhão fraterna através da oração, da celebração e da meditação da Palavra de Deus são práticas cristãs que podem ser intensificadas neste momento de reclusão social. Além, é claro, de manter-se ligado aos irmãos e à comunidade através das redes sociais.

Celebrar a fé em família, alimentar a esperança e crescer na comunhão fraterna através da oração, da celebração e da meditação da Palavra de Deus são práticas cristãs que podem ser intensificadas neste momento de reclusão social.

  • A presença da igreja na internet já vinha crescendo, mas teve um salto neste período. É um caminho a seguir para adaptação aos novos tempos mesmo depois da atual crise?

Sim, é um caminho. A Igreja tem dado passos neste sentido, mas este período de pandemia tem acelerado a Igreja em sua ação pastoral e evangelizadora no emprego de recursos que contribuam na comunicação qualificada da Fé e do Evangelho.

 

  • O senhor fica ansioso pelo fim da quarentena e voltar a abraçar e falar com os fiéis?

Quem não fica! Todos esperamos e torcemos pelo melhor desfecho deste quadro que se instaurou no mundo todo com a pandemia. Confiantes no Cristo Ressuscitado, temos certeza que nossos esforços em favor da vida não serão em vão. Se Ele venceu a morte, com Ele venceremos também. Cristo é Senhor de nossa vida e de nossa história!

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