Presépios encantam! Místicos e antropólogos ensinam que a raiz da verdadeira sabedoria se encontra na capacidade de saber admirar. Admira quem se deixa impressionar por algo bonito e que, muitas vezes, é surpreendentemente simples e inusitado. Dado curioso e significativo, a reação verbal de admiração é frequentemente ligada ao divino: meu Deus, que bonito! O bonito é instintivamente associado ao sobrenatural. Somente quem vive aberto ao novo é capaz de contemplar. Razão porque é com as crianças que se aprende a admirar. Abertas e receptivas que são ao novo e surpreendente, frequentemente param, como se nada mais importante existisse na vida, olham, felizes e fascinados. A contemplação aprofunda o conhecimento, amplia os horizontes do entendimento. Emerge triste constatação: na pressa em que o presente contexto da vida se emoldura sobra escasso tempo e disposição para contemplar. Pois contemplar demanda pausas e concentração. A rotina acelerada tolhe a disposição para diminuir a marcha, estacionar, respirar e olhar com amor pessoas, acontecimentos, natureza.
O compasso acelerado da moderna mentalidade associado a outro fator que marca o atual estilo de vida – a presunção – inibe a capacidade de admirar. O moderno cidadão, interpelado por informações constantes e iludido pela facilidade de conseguir, com rapidez, superficiais instruções, se imagina possuidor de amplos conhecimentos. Dispensa tutores, pois se entende suficientemente preparado. Ora, somente quem encarna o espirito do constante aprendiz é capaz de parar para escutar, assimilar e entender. A presunção fecha a mente, infla o ego. Somente quem está aberto ao novo é capaz de contemplar. Somente quem se habitua a contemplar se habilita a maravilhar-se. A contemplação aprofunda os conhecimentos. Nada estranho que o atual contexto comportamental esteja marcado com tanta superficialidade, sinalizado por indigente irreverência.
O legítimo espírito religioso se destaca pela reverência. Reverente, o fiel vive aberto, mental e afetivamente, ao novo. Mesmo realizando rituais conhecidos e habituais, o fiel reverente coloca-se sempre na condição de aprendiz. Está sempre aberto ao novo, ciente que é que nenhum encontro com o divino é repetitivo. O divino sempre surpreende. Foi este mergulho no mistério divino que inspirou o místico Francisco de Assis a querer representar em imagens o mistério da Encarnação. Tanta foi a alegria que tomava conta do seu puro coração ao contemplar o mistério da Natividade, que sentia-se irresistivelmente impulsionado a querer compartilhar seu encantamento com seus conterrâneos mais pobres. Afinal foi para evangelizar os pobres que o Cristo assumiu a condição humana! Intuiu frade Francisco que somente através de imagens e representações é que gente mais simples pudesse ter acesso a esse inefável mistério. Foi com esta mentalidade místico-catequética que o “poverello de Assisi”, em 1223, criou o primeiro presépio, não com imagens de gesso ou de madeira, mas com gente viva e animais de verdade. Registra a história que as pessoas simples da redondeza dirigiram-se até a gruta improvisada com tochas e velas, iluminando a escuridão da noite com seu brilho e espantando o gelado frio com seu calor. Naquela singular noite, o Evangelho da Natividade deixou de ser letra.
Virou proclamação! Experiência de encontro com o Deus que toma a condição humana para redimir o homem do enfado da vida, liberta-lo das ilusões enganosas e reaviva-lo das mortes do desencanto. Naquela noite o Evangelho virou cor, coro, clarão! Anúncio, em suma! O presépio de Francisco aproximou Jesus às pessoas! Tornou sensível o mistério da Encarnação! Divino espetáculo! Inolvidável!
Confeccionar presépios é tradição! Elaborar presépios é catequese! Recriar a cena da Natividade não é folclore, é aprendizado, é meditação em família, envolvente, educativa, reverente. Mais do que peça de decoração, presépio é ritual capital, em especial onde há crianças! Espaço privilegiado para resgatar a simplicidade, alimentar a imaginação, provocar o fascínio, inspirar a prece! Transposição cênica da alvissareira convicção de que Deus, de fato, é o Deus conosco. O EMANUEL!
FELIZ NATAL!
Deixe um comentário