Escutar com o coração. Padre Charles reflete a mensagem do Dia das Comunicações Sociais

Por ocasião do 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco enviou uma mensagem cujo conteúdo ultrapassa a fronteira estritamente profissional. A abordagem do Santo Padre oferece oportuna ocasião para se refletir sobre a importância de saber ouvir o outro. Selecionei alguns trechos para alimentar a reflexão tanto dos profissionais de comunicação como também do cidadão de boa vontade.

“Convido a fixar atenção sobre o verbo “escutar”, que é decisivo na gramática da comunicação e condição para um diálogo autêntico. Com efeito, estamos a perder a capacidade de ouvir a pessoa que temos à nossa frente, tanto na teia normal das relações cotidianas como nos debates sobre os assuntos mais importantes da convivência civil. A escuta continua essencial para a comunicação humana. Apesar de frequentemente oculto, o desejo de ser ouvido interpela toda pessoa chamada a ser educadora ou que desempenha de algum modo o papel de comunicador.
Ouvidos, temo-los todos. Muitas vezes, porém, mesmo quem possui um ouvido perfeito, não consegue escutar o outro. Pois existe uma surdez interior, pior do que a física. A verdadeira sede da escuta é o coração. Por isso, a primeira escuta a reaver quando se procura uma comunicação verdadeira é a escuta de si mesmo, das próprias exigências, inscritas no íntimo de cada pessoa. E não se pode recomeçar senão escutando aquilo que nos torna únicos na criação: o desejo de estar em relação com os outros e com o Outro. Não fomos feitos para viver como átomos, mas juntos.

Há um uso do ouvido que não é verdadeira escuta, mas o contrário: o espionar. De fato, uma tentação sempre presente, mas que neste tempo da social web parece mais assanhada, é a de procurar saber e espiar, instrumentalizando os outros para os nossos interesses. A boa comunicação não procura prender a atenção do público ridicularizando o interlocutor, mas presta atenção às razões do outro e procura fazer compreender a complexidade da realidade. É triste quando surgem, mesmo na Igreja, partidos ideológicos, desaparecendo a escuta para dar lugar a estéreis contraposições.

Na realidade, em muitos diálogos, efetivamente não comunicamos: estamos simplesmente à espera que o outro acabe de falar para impor nosso ponto de vista. O diálogo, nesse caso, não passa de duólogo, ou seja, um monologo a duas vozes. Para fornecer uma informação sólida, equilibrada e completa, é necessário ter escutado prolongadamente. Ouvir várias fontes garante credibilidade e seriedade à informação. A escuta requer sempre a virtude da paciência, juntamente com a capacidade de se deixar surpreender pela verdade. Somente o espanto permite o conhecimento. Escutar com este estado de espirito é sempre um enriquecimento, pois haverá sempre qualquer coisa, por mínima que seja, que poderei aprender do outro e fazer frutificar em minha vida. Deve-se escutar antes de falar. Aprender a oferecer gratuitamente um pouco do próprio tempo para escutar as pessoas é o primeiro gesto de caridade.

Recentemente deu-se início a um processo sinodal. Rezemos para que seja uma grande ocasião de escuta recíproca. Com efeito, a comunhão não é o resultado de estratégias e programas, mas edifica-se na escuta mútua entre irmãs e irmãos. Como num coro, a unidade requer, não a uniformidade, a monotonia, mas a pluralidade e variedade de vozes, a polifonia. Cientes de participar numa comunhão que nos precede e inclui, possamos descobrir uma Igreja sinfônica, na qual cada um é capaz de cantar com a própria voz, acolhendo como dom as dos outros, para manifestar a harmonia do conjunto que o Espírito Santo compõe.”

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