Espiral, artigo do padre Charles Borg sobre o Sínodo

“Vocês todos os irmãos”! É o testemunho símbolo que Jesus sempre imaginou que a comunidade de seus seguidores oferecesse ao mundo como contraponto às inúmeras arbitrariedades e frequentes esquemas de imorais privilégios existentes. Ratificou seu ensinamento recorrendo, como de costume, a uma alegoria tirada da natureza. Assim como na videira existe um único tronco e uma única seiva a alimentar os ramos e mantê-los fecundos, na comunidade dos discípulos todos devem se considerar semelhantes a ramos, radicalmente iguais em dignidade uma vez que todos se sustentam no mesmo tronco e se alimentam da mesma seiva. Na comunidade dos discípulos de Jesus, hierarquia é ofício para servir não para dominar. Imbuído por esta mística, o Papa Francisco inaugura, neste domingo, 10 de outubro, um processo de revisão radical no encaminhamento das tomadas de decisões na Igreja.

O Papa dá a este processo o emblemático nome de sinodalidade. Em seu significado etimológico, sínodo representa uma comunidade que caminha junto. Em comunidade que caminha junto as deliberações, pela lógica, devem ser tomadas de forma colegiada. A ousada, e profética, proposta do Papa Francisco é revitalizar o processo decisório na Igreja Católica.

Nos antigos manuais da apologética, a Igreja era apresentada como sociedade perfeita graças a sua estrutura monocraticamente sólida. As decisões eram tomadas em Roma e seguidas, fiel e linearmente, por todo o universo católico. O progressivo avanço da cultura plural amparado no justo reconhecimento de seu inato valor, favoreceu o surgimento de um forte movimento, no interior da Igreja, clamando por reformas. Esse processo culminou na realização do Concílio Vaticano II, que, segundo os historiadores, representou uma espécie de lufada de brisa suave e fresca. A contribuição maior do Concílio foi justamente o resgate da teologia do povo de Deus.

A Igreja é, fundamentalmente, um povo, marcado por um batismo comum, em peregrinação pelo mundo com a missão de agir como fonte de justiça e razão de esperança. O Concílio resgatou a dimensão sinodal da Igreja, propondo a realização de periódicos encontros com o objetivo de assessorar o Papa no pastoreio do povo de Deus. Vários foram os sínodos realizados após o Vaticano Segundo, abordando temas de vital importância na caminhada da Igreja. Uma nota destoante teimava descaracterizar esses encontros: a proibição de abordar determinados e conflitantes tópicos, justamente os que mais precisavam ser debatidos. Em tese, o processo sinodal é altamente auspicioso. Na prática, contudo, é de difícil execução!

Aprender a ouvir, habituar-se a ouvir, é o que o Papa Francisco, com profética coragem, está propondo realizar na Igreja. O processo sinodal seguirá uma dinâmica a favorecer a participação de todos os batizados, literalmente. Na Igreja, todos os batizados são agentes ativos. O serão a medida que sua voz seja ouvida! O lançamento a ocorrer neste domingo, abrirá a primeira, e a mais valiosa, etapa do processo, a convocação para que cada diocese motivasse suas comunidades paroquiais a manifestar livremente seu pensamento sobre a vida e a presença da Igreja no rincão onde se encontram. Esse levantamento será em seguida tabulado junto com contribuições de outras dioceses num mesmo país para ser, finalmente, analisado e debatido por representantes, entre prelados e leigos, num grande encontro a dar-se em 2023, em Roma.

A iniciativa do Papa é oferecer ao mundo, a partir da Igreja, um jeito espiral de administrar, uma dinâmica de constante e vital interação entre a base e a hierarquia. A logística para o êxito deste processo espiral é habituar-se a ouvir; prelados ouvem os leigos, leigos ouvem seus prelados. Irmanados, prelados e leigos, a moda dos ramos que “ouvem” a seiva que corre pelo tronco, aplicam-se à intuir o que Espírito Santo de Deus tem a dizer à Igreja!

Em tempo. Na diocese de Araçatuba, o lançamento diocesano do Sínodo, dar-se-á no domingo, 17 de outubro, numa missa presidida pelo sr. Bispo diocesano, D. Sergio Krzywy, na Catedral Nossa Senhora Aparecida, às 10h.

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