O cinema católico parece estar encontrando o seu espaço, mesmo diante de um mercado bastante competitivo. O filme “O Santo de Todos: A Vida e Missão de Santo Antônio Maria Claret”, que estreia nesta quinta-feira, 6 de outubro, é mais uma prova de que é possível conciliar entretenimento, cultura e evangelização. Diretor e roteirista do longa, Pablo Moreno acredita nessa combinação e trabalha muito para que essa seja uma realidade cada vez mais presente.
“É preciso apostar em contar grandes histórias, como se conta em Hollywood e tentar conquistar todos os mercados, todos os lugares, todas essas praças onde as pessoas vão, onde o povo está”, afirma o cineasta, que está no Brasil para divulgar o filme e compartilhar sua experiência com produções voltadas para o público cristão católico.
Na entrevista a seguir, Pablo Moreno fala sobre sua trajetória, referências, Claret e sobre próximos projetos.
Fale-nos um pouco sobre seu gosto pelo cinema.
Meu gosto pelo cinema se iniciou quando eu ainda era muito jovem, quando tinha 14 anos, com meus amigos. Fazíamos filmes, curtas-metragens e outras produções com câmeras de vídeos domésticas dos nossos pais e eu sempre gostava de contar histórias, sobretudo, o que mais gostava era o impacto que as histórias provocavam nas pessoas. Acredito que esta é a razão pela qual me dedico a este tipo de produção.
E quando você passou a se dedicar profissionalmente ao cinema?
Profissionalmente, comecei em 2004 com um filme muito simples, Jesús, el peregrino de la luz, e, a partir daí, montamos a produtora Contracorriente Producciones/ Stellarum Films e, desde então, temos produzidos curtas e longas metragens, vários documentários e oferecendo diferentes serviços audiovisuais para projetos diversos, alguns sobre desenvolvimento, outros de cooperação e sustentabilidade, sempre marcados pela premissa de que as pessoas são mais importantes. Queremos que o cinema, de alguma maneira, fale desses valores e nos ajude a construir um mundo melhor.
Quais são as suas referências?
Eu sou um bom espectador, gosto muito de cinema, de todos os gêneros, com um gosto particular por ficção científica. Dizem que existem três gêneros que são muito transcendentais que são faroeste, ficção científica e filmes religiosos, pois compartilham estruturas narrativas semelhantes. Os filmes que mais me emocionaram na vida são A Vida é Bela (de Roberto Benigni), Forrest Gump (Robert Zemeckis), os filmes de Ridley Scott, Blade Runner, 1492: A Conquista do Paraíso, Gladiador… São filmes que me marcaram muito. Também tenho como referência alguns diretores espanhóis como Javier Fesser, Julio Meden, Alejandro Amenábar, evidentemente, Almodóvar… são grandes criadores que marcaram minha vida e de tantos outros como eu. Além disso, gosto muito do filme clássico Ordet, de Dreyer que, durante muito tempo, me obcecou muito. E, meu filme favorito de ficção científica é Interestelar, de Nolan, seguido por 2001: Uma Odisseia no Espaço.
Falando sobre Claret, o que ele representa para os espanhóis?
Claret ressoa na Espanha, porque existem muitas ruas, praças que levam o seu nome e ele é para nós muito próximo. Certamente, conhecemos os missionários claretianos, mas não conhecemos bem Claret. Na Catalunha, seu nome é muito mais comum. Temos editoras muito próximas, assim como as livrarias claretianas e podemos adquirir livros sobre a vida dele, o que nos permite conhecê-lo um pouco melhor. Mas, gostaríamos de dar um passo além e apresentar esse Claret que, em âmbito intelectual, às vezes, é pouco conhecido e nós gostaríamos de quebrar um estigma sobre a história de Claret, sobretudo, mostrando este verdadeiro Claret que acreditamos que esteve durante tanto tempo oculto e que por justiça queríamos contar. Além disso, ele tem muita relação com os tempos de hoje.
Você esteve com o Papa Francisco algumas vezes. Como foram estes momentos de encontro com o Pontífice?
O Papa Francisco é uma pessoa incrível, um grande Papa. O que mais surpreende no contato pessoal com ele é que é um tipo que escuta. Ao falar com ele, é uma pessoa que acolhe o que estamos dizendo. Um dos momentos mais bonitos nestas ocasiões, aconteceu em uma audiência, quando fomos lhe apresentar o filme Luz de Soledad e o meu avô, pai do meu pai, estava hospitalizado naqueles dias. Um amigo disse ao Papa: “Santidade, o avô do Pablo está hospitalizado, poderia rezar por ele?”. O Santo Padre parou e me perguntou como meu avô se chamava. Eu lhe respondi e ele fechou os olhos por um instante e rezou por ele. Foi muito bonito! Meu avô se recuperou muito bem de sua enfermidade e quando o vi lhe disse: – Vovô, está recuperado pois o Papa rezou pelo senhor. Nesse sentido, posso dizer que é uma pessoa muito próxima e acredito que temos o melhor Papa para este tempo.
Quais são seus próximos projetos?
Eu tenho vários projetos. Acabo de fazer dois filmes que em breve estrearão internacionalmente. Um deles é o Petra de San José, que fala sobre Madre Petra, a fundadora de Las Madres de los Desamparados, e que foi lançado na Espanha em 2022 e logo estreará em nível mundial, chegando ao Continente Americano. E, entre o final deste e início do próximo ano, será lançado La Sirvienta, que aborda a vida de Santa Vicente Maria, fundadora do Instituto das Religiosas de Maria Imaculada, um filme muito bonito, muito diferente do que temos feito, uma linguagem bem legal e direcionado aos jovens e acho que será muito bonito. É um filme que trata do papel da mulher na Igreja de hoje e de como tivemos mulheres extraordinárias na história da nossa Igreja que trabalharam para mudar o mundo e que merecem ser lembradas e reconhecidas.
O filme O Santo de Todos trata de temas muito sensíveis, como a escravidão, a luta por direitos humanos, direitos sociais. No entanto, o tempo passou e continuamos a ver situações semelhantes, outros modelos de escravidão, violações desses direitos, que seguem sendo uma grande questão da sociedade. Essas situações o inspiram na criação desse e outros filmes?
Sem dúvida, infelizmente sempre há abusos em relação a este tema dos direitos humanos. O poder, sobretudo o poder mal entendido, não como um serviço, mas como uma ostentação de forças, provoca desequilíbrio nas sociedades. Infelizmente, é um tema velho, mas também muito atual, porque seguimos tendo governos e instituições com esse perfil… Na verdade, essa ostentação de poder e os abusos se dão em muitos âmbitos. O filme aborda muitos destes temas, mas destaca uma posição muito clara da Igreja a respeito de todas essas situações. Também, nestes tempos de polarizações, me preocupa muito a posição da nossa Igreja, porque é muito fácil cair na tentação de colocar-se ao lado dos mais poderosos. Então, sempre falo que o filme Claret (O Santo de Todos) é uma declaração de intenções de como eu vejo a Igreja, uma Igreja que precisa estar em saída, uma Igreja missionária, que beba diretamente da fonte do Evangelho, da fonte de Jesus Cristo. E, nesse sentido, penso que o filme traz um estilo e uma série de formas para enfrentar diversos problemas.
O que é preciso para avançarmos na produção de mais filmes de qualidade para o público católico?
Precisamos que o povo vá ao cinema ver os filmes, sobretudo para dizer que temos uma indústria audiovisual católica. E isso levará muito tempo, afinal, o cinema católico tem um problema de financiamento, porque é muito custoso conseguir os fundos para desenvolver os filmes e quase não há dinheiro para investir em publicidade, é mais difícil chegar ao povo e animar este povo a ir aos cinemas. Aqueles que vêm estes filmes saem renovados do cinema, porque não se trata apenas de um entretenimento, estes filmes convidam a conhecer diferentes realidades, provocar um diálogo e, sobretudo, o mais importante, provocar uma reflexão em âmbito pessoal, espiritual, que acredito ser muito bom. Certa vez, um expectador me disse: “estes filmes são alimentos para o espírito, para o coração, além de serem bons para nossos momentos de pausa”. Precisamos descansar, precisamos ver filmes que nos façam rir, chorar, nos emocionem e, neste caso, eu sempre me simpatizo com este tipo de produção, ficções compreendidas, não porque são falsas, mas porque são contadas de uma maneira narrativa. Para nós que conhecemos cinema, essas características da produção, entendemos que o mais econômico é produzir documentários, mas é verdade que o documentário é um formato mais restrito para um tipo de pessoa, mas uma boa parte do público não gosta deste formato e por isso não vão aos cinemas. É preciso apostar em contar grandes histórias, como se conta em Hollywood e tentar conquistar todos os mercados, todos os lugares, todas essas praças onde as pessoas vão, onde o povo está. Seja sábado à noite, seja domingo à tarde, sexta-feira… com sua família, com seus amigos e formar parte de toda a oferta cultural que há no mundo.
A que passos está o cinema católico?
O cinema católico está em curso agora mesmo, primeiro porque temos mais produtores fazendo filmes, segundo porque estão surgindo distribuidoras que levam a sério a distribuição do cinema católico e se dispõem a trabalhar com os exibidores, com as salas, com as redes de cinema. No entanto, seguimos necessitando de mais apoio por parte do espectador. Se o espectador quer ver esses filmes nos cinemas, precisa nos ajudar, em resposta, devem ir ao cinema, convidar familiares, amigos, recomendar-lhes isso… Assim demonstraremos que temos a força suficiente para levar adiante
Baseado em fatos reais, o filme “O Santo de Todos – A Vida e Missão de Santo Antônio Maria Claret” retrata a trajetória do religioso espanhol, fundador da Congregação dos Missionários e Missionárias Claretianos.
Confira os cinemas em: https://www.cinetks.com.br/claret
fONTE: Assessoria Kolbe Arte Produções