Em praticamente todos os países da Europa encontram-se templos cristãos. Atesta esta verdade a significativa ascendência do cristianismo – católico e protestante – no Velho Continente. Surpreende o contraste com a realidade atual. A Europa passa por uma crise religiosa séria e grave. Muitos templos encontram-se fechados ou transformados em atrações turísticas. A frequência aos sacramentos está drasticamente reduzida. A geração jovem, crítica e cínica, ignora por completo valores e tradições de matiz religiosa. Em suma, a atual cultura pagã reinante no Velho Continente impõe indigesta indagação: o que levou a população europeia a perder seu legado cristão?
Evidente, vários fatores contribuem para tão generalizada debandada. Despontam, todavia, alguns motivos mais influentes. A ausência de uma formação religiosa mais bem alicerçada nos fundamentais valores evangélicos merece detida atenção. Urge lembrar que a catequese, em seu sentido amplo de formação constante e consistente, não pode ficar reduzida a conhecimentos teóricos. Professar os artigos da fé e decorar versos da Bíblia não representa necessariamente uma fé robusta e operante. Tampouco participar de sacramentos ou cultos garante autêntica vivência da fé. Batismos e matrimônios continuam acontecendo, sem, no entanto, se apercebe marcante presença cristã nos ambientes sociais e políticos. Fé é vida! Fé é ação! Não basta conhecer, é preciso pôr em prática, dizia repetidamente o Mestre Jesus! A identidade cristã é marcada pela prática do amor fraterno.
Não amor qualquer, mas aquele praticado pelo Senhor Jesus Cristo. Um amor generoso que induz a fazer o bem pelo bem! Um amor universal, que não distingue entre amigos e inimigos! Um amor eterno, que não se sujeita à humores e preferências. Foi esta prática radical da caridade que chamava a atenção nas primitivas comunidades cristãs e atraia multidões de pessoas. Foi a pratica do amor verdadeiro que abria as portas da fé para o mundo pagão. Foi pela pratica do amor evangélico que as primitivas comunidades cristãs exerciam sua ascendência e marcavam presença no mundo pagão. Os não-crentes se convertiam impressionados pelas transformações nos relacionamentos entre pessoas operadas pela prática da caridade evangélica. Emerge um dos principais motivos que explica o triste declínio do cristianismo: muita liturgia, pouca caridade evangélica. Muita doutrina, pouca fé autêntica e comprometida. É na prática radical da caridade que repousa o real poder da religião.
Surge, então, outro correlato motivo que explica a corrosão cristã na Europa. As confissões – católicas e protestantes – deixaram-se enfeitiçar pelo poder político. Imaginavam edificar impérios religiosos segundo os moldes do mundo pagão. Conseguiram, por algum tempo, ascendência fictícia sobre políticos e cidadãos, impondo verdades e orientando costumes. Tamanha visibilidade, contudo, não passava de superficial ascendência. Políticos usavam (usam) a religião para assegurar seus interesses e os religiosos usavam (usam) a política para manter privilégios e conservar prestígio. Deu-se a completa distorção dos princípios proclamados pelo Mestre Jesus ao alertar que os valores do mundo jamais deveriam interferir nos valores do Reino: entre vocês não deve ser assim, advertiu o Mestre. Ao atrelar-se ao poder político, a religião perde autenticidade e sacrifica sua independência. Abdica-se, na verdade, do seu real e verdadeiro poder que reside na caridade praticada em compasso de serviço.
As igrejas cristãs – católicas e protestantes – são depositárias de ingente responsabilidade: fazer acontecer o Reino de Deus no mundo – renovar a face da terra! Implantar a civilização da caridade, resgatar a dignidade e elevar o nível de relacionamento entre as pessoas constituem a razão de ser do rebanho de Jesus Cristo! Ingente, exigente e permanente tarefa! Só possível de ser bem concretizada, todavia, com as humildes armas do Evangelho, caridade incondicional e fé comprometida!