Henry comove o Brasil! A trágica morte do menino de quatro anos, supostamente torturado pelo padrasto com a, igualmente suposta, implícita omissão da mãe, mexe com os sentimentos das pessoas e provoca variadas emoções. A sociedade exige que a justiça esclareça os fatos e os culpados sejam devidamente responsabilizados. Este clamor pela revelação da verdade sobre o pavoroso caso torna-se urgente uma vez que se sabe não tratar-se de caso isolado.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria, estima-se que no Brasil mais de 10 mil crianças morrem, precocemente, por ano, vitimas de maus tratos, a maioria praticados em família. Se ainda acrescentarmos outros abusos/moléstias que, mesmo não sendo fatais, provocam, todavia, sérios distúrbios emocionais e psíquicos, resultando em transtornos perenes, a preocupação com a segurança de crianças alcança patamares alarmantes. As crianças representam, na sociedade, a faixa mais vulnerável e, simultaneamente, constituem sua reserva mais preciosa.
Proteger as crianças, proporcionar-lhes sólida educação e formação moral íntegra é um sagrado dever da sociedade. Obrigação esta que envolve, governos, entidades educacionais – escolas e igrejas – e, por óbvio, a família! A saúde de uma nação se mede, entre outros, pelo zelo dispensado para com as crianças!
A acentuada urbanização mudou radicalmente estilos de vida ao longo desses últimos decênios. A sociedade saiu de um regime de vida colonial, marcado pela presença e influência de grupos étnicos e religiosos, onde crianças cresciam e recebiam educação dentro de padrões rígidos e tradicionais impostos e patrulhados pelo conjunto da colônia, para um plano de vida liberal, fluído, onde padrões e referências ficaram mais frouxos. A mudança deu-se num processo demasiadamente rápido, atropelando referências e implodindo tradições. No atual compasso, cada núcleo familiar define seu padrão de hábitos e seu código de conduta. Esta fragmentação, por óbvio, torna a família especialmente vulnerável diante de influências externas aplicadas em impor hábitos e costumes, geralmente motivadas por intenções comerciais imediatos.
Vive-se de acordo com preferências impostas por fora, uma espécie de colonialismo comercial e patrulhamento hedonista, que descaracteriza identidades e sepulta, terminantemente, resquícios de raízes herdados da tradicional colônia. Até mesmo o relacionamento afetivo passa por sobressaltos. Ganha força e adeptos a fantasiosa proposta da juventude eterna. Avança-se em idade, mas teima-se em preservar o vigor e as veleidades da juventude. A mentalidade leviana afeta, por obvio, os relacionamentos afetivos. Casais, ou pares, se unem, motivados principalmente por extravagâncias imediatas, transitórias, subjetivamente vantajosas, com presumível data de validade.
Sucedem-se trocas de parceiros, mudanças de preferências sexuais, tudo em busca de uma autoafirmação narcisista que quanto mais ruidosa mais indigente se denuncia. Emerge claramente que nesses casamentos de ocasião, uniões utilitárias, as crianças passam a ser consideradas e tratadas como coadjuvantes, merecedoras de atenção enquanto ajudam a completar a padronizada imagem de felicidade. Descartáveis, quando estorvam planos de realização subjetiva. Pelo jeito, Henry estorvava!
Julgamento moral só cabe a Deus! Fora de cogitação imaginar uma mãe, normal, consentir com a eliminação de filho pequeno. Genitores e cidadãos estão, levianamente, se embrenhando em uma teia de fortes emoções e conflitantes preferências a ponto de perder a capacidade de discernir entre o essencial e o secundário, de distinguir o certo do errado, chegando a justificar a inaptidão de tomar posição diante de covardes abusos. Enquanto isso, anjos continuam molestados e indefesos inocentes agredidos. Acordam pais! Despertam-se cidadãos!