Padre Charles Borg: a cultura do cuidado, parte 2

‘A cultura do cuidado como percurso de paz’! Inspirado neste tema, o papa Francisco dirigiu a todas as pessoas de boa vontade sua tradicional mensagem para o Dia Mundial da Paz, celebrado no primeiro dia de cada ano. Apresento, a seguir, trechos selecionados desta mensagem com o objetivo de levar aos leitores a possibilidade de inteirar-se do pensamento do Papa.

‘Superadas as perseguições dos primeiros séculos, a Igreja aproveitou a liberdade para inspirar a sociedade e a sua cultura. De tais esforços conjuntos, resultaram numerosas instituições para alívio das várias necessidades humanas; hospitais, albergues, orfanatos e assim por diante. Emerge a “gramática” do cuidado: a promoção da dignidade de toda pessoa humana, a solidariedade com os pobres e indefesos, a solicitude pelo bem comum e a salvaguarda da criação. No conceito cristão, a pessoa cultiva relacionamentos e recusa o individualismo, afirma a inclusão e não a exclusão, afirma a dignidade de cada cidadão e não a exploração. Toda pessoa humana é fim em si mesma, nunca mero instrumento a ser avaliado apenas pela sua utilidade. Deste dignidade derivam-se direitos bem como deveres.

Cada aspecto da vida social, política e econômica encontra a sua realização quando se cloca ao serviço do bem comum. Estamos todos no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários. A solidariedade ajuda-nos a ver o outro como pessoa, companheiro de viagem, chamado a participar, como nós, no banquete da vida, para o qual todos somos igualmente convidados por Deus. Reitero, não pode ser autêntico um sentimento de união íntima com os outros seres da natureza, se ao mesmo tempo não houver no coração ternura, compaixão e preocupação pelos seres humanos. Num tempo marcado pela cultura do descarte, convido os governos a pegarem nesta “bússola” dos princípios acima lembrados para dar um rumo humano em todo processo de globalização.

Encorajo a todos a tornarem-se profetas e testemunhas da cultura do cuidado, a fim de preencher tantas desigualdades sociais. As causas de conflitos são muitos, mas o resultado é sempre o mesmo: destruição e crise humanitária. Urge converter o coração e mudar mentalidades e procurar a paz na solidariedade e na fraternidade. Atitude corajosa seria criar um “Fundo mundial” com o dinheiro que se gasta em armas e outras despesas militares, para poder eliminar a fome e contribuir para o desenvolvimento de países mais pobres.

A educação para o cuidado nasce na família, com a colaboração da escola. A educação constitui um dos pilares de sociedades mais justas e solidárias. As religiões podem desempenhar um papel insubstituível na transmissão de valores de solidariedade. A cultura do cuidado constitui via privilegiada para a construção da paz!

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