Padre Charles Borg destaca a atuação de Dom Pedro Casaldáliga na defesa da vida

Zelar pela natureza é promover vidas! Universal é o clamor por um relacionamento mais respeitoso para com a natureza! Lamenta-se profundamente a polarização desta óbvia verdade. Reduzida a fundamentações ideológicas, a busca pela preservação e promoção do meio ambiente transforma-se em lutas de poderosos – políticos e econômicos – contra forças ditas reacionárias – antiprogressistas e ambientalistas – que ao fim e ao cabo terminará por prejudicar a todos.

As formidáveis reservas naturais, em especial o solo brasileiro, demandam uma profunda reavaliação da gestão ambiental. Cuidar do enorme potencial dos ativos agrícolas do país é do interesse de todos. O zelo pela preservação do ambiente é considerado, hoje, critério básico para a ampliação e fortalecimento das fronteiras comerciais. É, igualmente, referência de controle de qualidade.

O imenso patrimônio verde inspira iniciativas de produção inclusiva e sustentável. Afinal, não há como separar o respeito pela terra do necessário cuidado para com a saúde e o sustento de pessoas e nações. É claro que uma agricultura preocupada com o meio ambiente contribui positivamente para uma sobrevivência saudável tanto de consumidores como de produtores e, por lógica consequência, para a saúde econômica do país. Ocupar-se com o complexo desafio do meio ambiente não representa, de forma alguma, bandeira ideológica de grupos alienados e conservadores. Significa, ao contrário, um legitimo anseio por justiça e dignidade.

Urge reavaliar, com serenidade e discernimento, as gestões com o meio ambiente, com a casa comum de todos os seres humanos. Para o crente, respeitar a criação e promover de maneira sustentável, justa e universal suas potencialidades representa o culto mais simples e exprime a gratidão mais reverente ao Criador!

Dom Pedro Casaldáliga, falecido em 8 de agosto passado, foi, indiscutivelmente, um dos desses crentes que por atitudes, discursos e escritos captou a mística da natureza e compreendeu a sublime intenção do Criador de presentear as riquezas naturais a todas as pessoas, sem distinção. Sua vida e seu ministério foram pautados pela verdade fundamental: os bens da natureza, terra e produção, não podem ser monopólio de alguns. Muito menos oportunidade para exploração e dominação prepotente. São dádivas universais! A formidável energia da natureza deve ser canalizada para produzir vida abundante e prosperidade para todos.

Nascido na Catalunha, veio ao Brasil como missionário e vestiu, sem costura nem emenda, a túnica de pessoas injustamente marginalizadas. A inspiração para viver pobre em meio de pobres se fundamenta no evangelho. Dom Pedro foi, acima de tudo, um místico. Sua luta nada tinha de ideologia classista. Ao contrário, encontrava-se totalmente inspirada no Evangelho e no exemplo de Jesus Cristo, que rebaixou-se e humilhou-se para tornar-se próximo de todos e a todos!

Em especial, aos que se encontravam à margem da vida! Lucro ganancioso e Evangelho são valores excludentes! Somente uma profunda espiritualidade explica a incansável e despretensiosa busca por justiça e dignidade. Ardia nele o fogo dos profetas que, seduzidos pelo projeto divino, entregavam-se sem reservas ao cumprimento da proposta de Deus.

Belo e precioso é o dom da criação. É o primeiro e mais autêntico ‘livro’ escrito pela mão divina, séculos antes da grafia! Místicos e poetas reconhecem os digitais divinos na sublime obra da casa comum. Na alma tocados pela divina e gratuita generosidade, empenham-se apaixonadamente para enaltecer as formidáveis riquezas naturais. Coerentes e destemidos, desdobram-se para que os benefícios da criação recuperassem sua destinação original, universal e justa. Profeta, poeta e místico foi Dom Pedro, comprometido colaborados no cuidado com a criação!

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